Alemanha vai adotar tratamento experimental usado por Trump
Médicos e cientistas acreditam que ele pode ser útil para inibir e neutralizar o vírus, principalmente no momento inicial da doença
A Alemanha vai começar a usar em seus hospitais o mesmo tratamento experimental aplicado no ex-presidente dos EUA, Donald Trump: medicamentos baseados em anticorpos, peças-chave do sistema de defesa do corpo humano contra invasores. Os anticorpos se ligam a estruturas do vírus como a proteína S (de spike, ou espícula), usada pelo patógeno para invadir células humanas, e impedem que ele abra essa porta e infecte o paciente. Médicos e cientistas acreditam que ele pode ser útil para inibir e neutralizar o vírus, principalmente no momento inicial da doença.
Após a fase inicial de sintomas, o efeito benéfico dos anticorpos monoclonal se reduz, porque as piores complicações são inflamação e aumento da coagulação provocados pelo vírus. A Alemanha não especificou de que fabricante será o remédio usado. Trump recebeu o tratamento Regn-Cov-2, um coquetel de dois anticorpos desenvolvido pela empresa americana Regeneron, mas produtos baseados em anticorpos monoclonais não estão entre os tratamentos autorizados pela EMA (agência regulatória da UE) para tratar Covid-19.
De acordo com o registro da entidade, foram aprovados até agora dois remédios: o corticóide dexametasona e o antiviral remdesivir. Há um protocolo de ensaios com produtos de anticorpos da Regeneron, ainda sem resultados, e coquetéis da empresa são listados como “sob aconselhamento”, ainda em fase pré-clínica de ensaios.
Na lista da EMA há 9 coquetéis em análise, dos quais 4 estão em fase clínica: os desenvolvidos pelas empresas Sinocelltech (China), Vir Biotechnology/GSK (EUA/UK), Jiangsu Pacific Meinuoke Biopharmaceutical(China) e Biocon Biologics (Índia). Desde o começo da pandemia, já foram descobertos mais de 150 anticorpos monoclonais contra o Sars-Cov-2. Há 19 projetos de pesquisa no mundo, inclusive no Brasil, segundo o médico infectologista Esper Kallás, colunista da Folha de S. Paulo.
Nos EUA, a FDA (agência regulatória) autorizou o uso emergencial de alguns desses tratamentos em novembro e em dezembro do ano passado. De acordo com o Ministério da Saúde alemão, foram compradas 200 mil doses de coquetéis de anticorpos monoclonais (ou seja, desenvolvidos em laboratório), que serão usados em hospitais universitários a partir da próxima semana. A EMA não tinha porta-vozes disponíveis no domingo para comentar o uso desse tipo de produto pela Alemanha.
HOSPITAL EM QUARENTENA
O anúncio do novo remédio pelo ministro da Saúde, Jens Spahn, vem num momento em que ele está sob críticas pela lentidão na vacinação contra a Covid-19 e sob pressão de novas variantes do coronavírus, mais transmissíveis. Em Berlim, o hospital Vivantes Humboldt em Berlim foi colocado em quarentena neste sábado (23) após 14 funcionários e pacientes terem sido infectados pela variante B.1.1.7, encontrada pela primeira vez no Reino Unido no final do ano passado.
Novas internações estão congeladas e casos de emergência foram transferidos para outros hospitais. O acesso à clínica foi restringido e serviços de entrega, proibidos. O hospital deve agora testar todos os pacientes e funcionários e sequenciar os vírus dos que tiverem resultado positivo. O funcionamento só voltará ao normal depois que os dados forem analisados pelas autoridades de saúde alemãs.
A preocupação com as novas variantes deve ser redobrada depois que o governo britânico afirmou, na sexta, que, segundo dados iniciais, a B.1.1.7 pode ser também mais letal, além de mais contagiosa. O alerta foi feito a partir de estudos de vários grupos científicos, mas os resultados ainda não são conclusivos.
Em relação às vacinas, a Alemanha aplicou até este domingo 1,63 milhão de doses, o equivalente a 1,95 dose por 100 habitantes, taxa considerada baixa para a maior economia europeia. Países mais pobres, como a Romênia, Portugal e a Espanha, já aplicaram mais doses em relação à população.
A Alemanha é fabricante de vacinas e sede da BioNTech, que, em associação com a Pfizer, produz um dos dois imunizantes já autorizados pela União Europeia. Ainda assim, tem sido afetada pela escassez de doses. A Pfizer cortou suas entregas na última semana em cerca da metade, sob a justificativa de que precisava fazer mudanças nas linhas para aumentar sua capacidade de produção. Neste domingo (24), o governo alemão afirmou que pretende ter inoculado ao menos a primeira dose em todos os adultos do país até o final de agosto.
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