Boris Johnson recebeu oxigênio, não foi entubado e continua na UTI
Até a manhã desta terça (7), estava consciente e não precisou ser entubado
O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, 55, recebeu oxigênio em sua primeira noite na UTI do hospital Saint Thomas, em Londres, onde está internado por complicações da Covid-19 (doença provocada pelo novo coronavírus). Até a manhã desta terça (7), estava consciente e não precisou ser entubado.
Boris teve a doença diagnosticada no dia 26 de março, se autoisolou em casa e foi internado na noite de domingo com febre e tosse persistentes. Às 19h de segunda (6), com piora da capacidade respiratória, foi transferido para a UTI.
O primeiro-ministro recebeu tratamento de oxigênio para elevar as trocas do gás no pulmão. Segundo jornais britânicos, ele recebeu 4 litros/minuto. Orientação da OMS para casos de Covid-19 fala em até 15 litros/minuto.
Especialistas da Universidade College London e do Centro de Medicina Intensiva de Londres disseram que Boris pode estar recebendo um tratamento chamado CPAP, em que pressão é usada para levar ar e oxigênio em um fluxo contínuo pela boca, aumentando a quantidade do gás nos pulmões.
A técnica seria intermediária entre a máscara de oxigênio e o intubação, usado em casos graves, em que o paciente é incapaz de respirar sozinho.
A experiência na Itália e na Espanha mostra que o CPAP tem resultados em pacientes de Covid-19, em quadros ainda não graves. Segundo o jornal britânico Guardian, dois terços dos internados em UTI no Reino Unido precisaram de intubação.
Se chegar a esse estágio, Boris precisará ser sedado para que um tubo seja introduzido por sua traquéia e leve o oxigênio diretamente ao pulmão, impulsionado por uma máquina de ventilação.
Alguns casos requerem o uso de um equipamento chamado ECMO, que auxilia tanto pulmões quanto coração. O Saint Thomas é um dos seis hospitais britânicos equipados com essa máquina.
Dos pacientes que foram internados em UTI com Covid-19 no Reino Unido e já deixaram o hospital, 50% se recuperaram. A outra metade morreu, segundo o Centro Nacional de Pesquisa e Auditoria de Cuidados Intensivos.
O instituto analisou dados de 2.248 pacientes, 73% deles homens e 27% mulheres.
A internação do primeiro-ministro numa UTI foi recomendada pelos médicos porque esses centros de tratamento oferecem “todos os recursos necessários imediatamente, em um caso de emergência”, afirmou em entrevistas a várias redes de TV nesta terça um dos principais ministros do governo britânico, Michael Gove.
Dizendo não saber se Boris está com pneumonia, uma das consequências da Covid-19 que pode levar a falência respiratória se for agravada, e até à morte, Gove disse que “o governo manterá a população atualizada sobre o estado do primeiro-ministro”.
Boris continuava chefiando o governo britânico durante seu período de isolamento, o que pode ter dificultado sua recuperação. O quadro do premiê começou a piorar na quinta-feira (2). Na sexta, quando deveria deixar o autoisolamento, postou um vídeo em rede social em que dizia se sentir melhor, mas ainda com “sintomas menores” da doença. Sua imagem era de cansaço e abatimento.
Sobre um possível excesso de esforço do premiê durante o isolamento, Gove disse que o premiê estava seguindo orientações médicas. “Ele é uma força da natureza, com energia imensa, muita determinação e um desejo incansável de ver as coisas evoluindo e de liderar o combate à pandemia”, disse Gove.
“Ele é um sujeito muito forte, muito mais em forma do que parece”, disse a uma emissora de rádio Will Walden, amigo de Boris e ex-diretor de comunicação do premiê quando ele foi prefeito de Londres.
“É incansável numa quadra de tênis, corre regularmente, não fuma, bebe pouco. Se alguém está em boa posição para combater a doença, é ele”, afirmou Walden, que disse ter conversado brevemente com Boris na semana passada: “Estava mais interessado no combate à pandemia no país que eu seu próprio isolamento”.
QUEM ASSUME O GOVERNO
O primeiro-ministro vinha repetindo que estava à frente do governo desde que recebeu o diagnóstico da doença, e reafirmou essa disposição em mensagem em rede social na segunda, escrita de sua cama no hospital.
A possibilidade de que ele precise ser entubado – e, por isso, fico inconsciente –, porém, fez crescer a preocupação sobre quem assumirá as decisões no combate à pandemia e em outras ações do governo.
O Reino Unido não tem uma regra clara de sucessão, e Boris pediu a seu secretário de Relações Exteriores (equivalente a ministro), Dominic Raab, que funcionasse como seu adjunto quando fosse necessário.
Em entrevista a várias emissoras de TV nesta manhã, um dos principais ministros do governo, Michael Gove disse que a administração funcionou sem percalços no primeiro dia de internação do primeiro-ministro e que as decisões são tomadas “por consenso”.
Os membros do governo devem continuar se reunindo todas as manhãs por volta das 9h15, em encontro antes coordenado por Boris (em autoisolamento, o premiê participava por videoconferência) e agora por Raab.
“Estamos trabalhando juntos para implementar o plano que o premiê desenvolveu e engajar todos os recursos do governo para lutar contra esse inimigo invisível”, afirmou Gove.
Analistas políticos questionam a experiência política do secretário de Assuntos Exteriores para mediar uma disputa entre do secretário da Saúde (equivalente a ministro), Matt Hancock, que quer manter inalteradas medidas de isolamento social, e o chanceler (ministro da Fazenda) Rishi Sunak, que manifestou preocupação com danos à economia.
Segundo Gove, não há divergências: decisões sobre o combate à pandemia de coronavírus estavam seguindo as orientações de Hancock e dos conselheiros na área de ciência e medicina.
“Estamos muito conscientes de que a população, principalmente famílias com crianças, estão enfrentando um desafio com o lockdown. Mas precisamos que eles sigam as orientações. O caso do primeiro-ministro mostra que a doença pode atingir qualquer um de nós, e pode ser muito séria”, disse Gove.
O ministro afirmou que o governo está monitorando os dados e revendo todos os dias o grau de respeito às regras de isolamento, “porque ninguém quer a sociedade em lockdown”.
PODER NUCLEAR
Outra questão envolve decisões militares. O deputado conservador Tobias Ellwood, presidente do Comitê de Defesa do Parlamento, pediu mais clareza sobre como ficam as decisões durante a internação de Boris.
Questionado sobre quem estaria à frente de decisões sobre o poder nuclear britânico, por exemplo, Michael Gove, um dos principais ministros do governo de Boris Johnson, disse que até agora todas as decisões têm sido tomadas “por consenso”.
O chefe de Defesa, general Nick Carter, afirmou que não há dúvidas sobre a cadeia de comando das Forças Armadas. Segundo ele, decisões nessa área devem ser tomadas pelo Conselho de Segurança Nacional, formado por ministros e pelo conselheiro nacional de segurança. “O trabalho seguirá como sempre.
Dominic Raab deve capitanear o conselho com o apoio de todos.”
Nem Gove nem Raab estiveram em contato com Boris desde domingo, quando ele foi levado ao hospital.
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