Jovem ativista pelo clima Greta Thunberg é escolhida Pessoa do Ano pela Time
Com a escolha, ela desbancou, entre os finalistas, nomes como a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, os manifestantes de Hong Kong e o presidente dos EUA, Donald Trump
Os protestos solitários que Greta Thunberg promovia a cada sexta-feira em Estocolmo e que se transformaram em um movimento de milhões de pessoas por ações contra as mudanças climáticas fizeram com que a ativista sueca de 16 anos fosse escolhida a Pessoa do Ano pela revista americana Time.
No anúncio, feito nesta quarta-feira (11) no programa de TV Today, da rede NBC, a publicação justificou a seleção afirmando que a jovem “inspirou 4 milhões de pessoas a se unir à greve climática global em 20 de setembro de 2019, no que foi a maior demonstração climática da história da humanidade”.
Com a escolha, ela desbancou, entre os finalistas, nomes como a presidente da Câmara dos Deputados dos EUA, Nancy Pelosi, os manifestantes de Hong Kong e o presidente dos EUA, Donald Trump.
Greta começou a se mobilizar em agosto do ano passado, quando deixou de ir à escola para se manifestar em frente ao Parlamento sueco. Para a ativista, não fazia mais sentido frequentar as aulas, uma vez que não haveria futuro devido às mudanças climáticas.
Antes disso, já havia vencido um concurso de redação de um jornal sueco em que argumentava sobre problemas relacionado ao meio ambiente. Foi procurada por líderes como Bo Thorén, do movimento Fossil Free Dalsland, para discutir ações lideradas por jovens.
A ideia da greve surgiu nas conversas, inspirada pelo movimento dos alunos da Marjory Stoneman Douglas High School, em Parkland, Flórida, que se recusaram a ir à escola após ataques a tiros deixarem 17 mortos.
Em poucos meses o movimento passou a ser repetido por outros grupos de jovens. Depois do incômodo de pais e professores, uma trégua foi negociada, e a partir de setembro as greves passaram a acontecer somente às sextas-feiras.
Começou ali o movimento #FridaysForFuture (sextas-feiras pelo futuro), hoje organizado em cerca de 30 países, incluindo o Brasil. De lá para cá, foi recebida e elogiada por celebridades, ambientalistas renomadas como Jane Goodall (famosa pela dedicação aos chimpanzés na Tanzânia) e líderes como o ex-presidente americano Barack Obama, para quem Greta é um exemplo.
O momento de maior destaque da ativista sueca, porém, foi durante a abertura da cúpula do clima da ONU, em Nova York, há menos de um mês, quando seu discurso foi, ao mesmo tempo, elogiado e alvo de uma campanha difamatória.
Durante a fala, Greta acusou líderes mundiais de terem traído sua geração por meio da falta de ação diante do aquecimento global. “Você vem até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam?”, criticou. “Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu tenho sorte. Pessoas estão sofrendo, pessoas estão morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso”, disse.
“Eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola, do outro lado do oceano”, disse ainda. “Mas os jovens estão começando a entender a traição de vocês.”
Por outro lado, políticos de direita, céticos do clima, comunicadores e até mesmo pessoas que apoiam a causa climática nas redes sociais mas levantam suspeitas sobre sua influência e sua origem passaram a colocar a jovem sueca na mira.
Filha da cantora de ópera Malena Ernman e do ator e produtor Svante Thunberg, Greta sustenta que seus pais são seus únicos financiadores e que atua com independência. “Não há ninguém ‘por trás’ de mim exceto eu mesma. (…) Às vezes apoio e coopero com ONGs que trabalham com clima e meio ambiente, mas sou absolutamente independente.”
Muitas das críticas tinham preconceito com o fato de Greta ter síndrome de Asperger, condição do transtorno de espectro autista. Quem tem Asperger costuma ter superconcentação em um assunto que acha fascinante.
Necessidade de repetição e constância são outras características de quem tem a síndrome. Não há deficiência cognitiva —pelo contrário, o desempenho escolar costuma ser ótimo. Um canal de TV americano se retratou após um comentarista descrevê-la como doente mental. Um radialista brasileiro foi demitido e disse ter “passado do ponto” após dizer que Greta era histérica e precisava de sexo.
O meteorologista da USP Ricardo Felício, que nega o aquecimento global, disse em rede social que Greta precisava de tratamento psiquiátrico.
As opiniões contrárias à ativista foram acompanhadas de muitas fake news. Greta foi acusada de ser ligada ao Estado Islâmico e de ser filha de terroristas e satanistas. Até seu visual, com tranças, foi comparado ao de meninas de cartazes nazistas.
No Brasil, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou uma montagem nas redes sociais que mostrava a sueca se alimentando em um trem enquanto crianças aparentemente pobres apareciam na janela do veículo. O deputado admitiu depois saber que se tratava de uma montagem.
Do presidente americano, Donald Trump, Greta recebeu um comentário irônico. Ele republicou em seu perfil no Twitter parte do discurso que ela fez na cúpula do clima da ONU. “Ela parece uma jovem muito feliz à espera de um futuro brilhante e maravilhoso”, escreveu Trump.
Em resposta, Greta copiou a frase na descrição do seu perfil na rede social.
Da mesma maneira, quando Jair Bolsonaro chamou a jovem ativista de “pirralha”, nesta terça (10), ao ser questionado sobre o assassinato de dois indígenas da etnia guajajara no no Maranhão, Greta também atualizou sua descrição com a palavra usada pelo presidente brasileiro.
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