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O que Guilherme de Pádua conta no livro sobre Daniella Perez que a Justiça proibiu

Ator condenado pelo assassinato da atriz afirmou que ambos tiveram um caso, o que a família nega, e fez críticas à Globo


Por Folhapress Publicado 27/07/2022
Guilherme de Pádua pede perdão a Gloria Perez por assassinato de Daniella Perez
O ex-ator Guilherme de Pádua deixa o Tribunal do Rio de Janeiro após ser condenado a 19 anos de prisão pelo assassinato da atriz Daniella Perez, nos anos 1990. (Foto: Patrícia Santos/Folhapress)

Em meados dos anos 1990, enquanto ainda aguardava o julgamento pelo assassinato da atriz Daniella Perez, Guilherme de Pádua se pôs a escrever a sua versão sobre os fatos.

Os escritos, que ele batizou de “A História que o Brasil Desconhece”, acabaram publicados em livro pela editora mineira O Escriba. No entanto, a Justiça proibiu a circulação da obra.

PACTO BRUTAL


Alguns dos detalhes do que ele escreveu são brevemente mencionados em “Pacto Brutal”, série sobre o crime que estreou na semana passada na HBO Max. Embora a obra esteja censurada, a Folha de S.Paulo encontrou ao menos um exemplar do livro à venda por R$ 90 num sebo virtual.


Esse “romance autobiográfico”, como Guilherme de Pádua o descreve. Defende a tese que ele e Daniella Perez chegaram a ter um breve relacionamento extraconjugal enquanto eram parceiros de cena na novela “De Corpo e Alma”, de autoria da mãe da atriz, Gloria Perez.

O autor também afirma que foi Paula Thomaz, sua mulher à época, quem cometeu o assassinato da vítima, motivada por ciúmes do marido.


Paula Thomaz, vale dizer, nega que tenha estado na cena do crime, ocorrido em dezembro de 1992, e pelo qual foi condenada a 18 anos e seis meses de prisão.

Gloria Perez, endossada por diversos atores da Globo que dão entrevistas na série “Pacto Brutal”, refuta a ideia de que a sua filha teria tido qualquer relacionamento com o seu colega de elenco, também condenado pelo crime.

A HISTÓRIA QUE O BRASIL DESCONHECE


Ao longo das 269 páginas de suas memórias, Guilherme de Pádua tece comentários ácidos sobre os bastidores da Globo, que chamou de “covil dos deuses”. Procurada, a emissora não comentou os ataques do ator até o momento da publicação. De Pádua ainda lança farpas sobre vários de seus colegas e comenta o sistema carcerário fluminense com clima de denúncia. Ele convoca o leitor a ser um “jurado anônimo” do seu relato.


Os eventos todos são narrados em terceira pessoa e ele recria diálogos extensos, “com o propósito de tornar a narrativa mais atraente do ponto de vista literário”. E pede desculpas de antemão se alguns dos fatos são romanceados, “pois a memória foi o único recurso usado para escrevê-los”.

GUILHERME DE PÁDUA, ‘DÓCIL E PROMISSOR’


O autor de “A História que o Brasil Desconhece” descreve a si próprio num registro bastante favorável. Não só é um ator em ascensão, como um marido fiel e amoroso. Chega inclusive a rememorar um assalto cinematográfico de que teria sido vítima e no qual teria sido capaz de salvar a vida de um outro ator. Também mantido refém, que mais tarde viraria a cara para ele.


Nas páginas iniciais, o mineiro de Belo Horizonte diz que se encontrava no auge do sucesso, tendo de conciliar a rotina tumultuada de gravações no Rio de Janeiro com shows que fazia para fãs em boates concorridas de São Paulo nos fins de semana. Chega a dizer que o salário na Globo era tão ruim que ele tinha de se virar complementando os ganhos em festas das quais participava como atração.

DE CORPO E ALMA


Seus colegas, diz, eram só elogios à sua atuação, incluindo Roberto Talma, diretor-geral da novela “De Corpo e Alma”, e Gloria Perez, autora do enredo. Tanto é que, afirma no livro, o público respondia muito bem à audiência e torcia para que seu personagem, Bira, acabasse ficando junto de Yasmin, interpretada por Daniella Perez.


Com Paula Thomaz, a relação era de profundo companheirismo, diz o autor, sobretudo diante da gravidez da mulher. Os dois se chamavam por apelidos carinhosos e chegaram até a tatuar o nome um do outro na genitália. Ele teria tatuado “Paulinha” no pênis. O que mais tarde se comprovaria por perícia feita pela polícia. E ela teria tatuado “Guilherminho” na virilha. Os diminutivos eram os nomes que davam aos respectivos órgãos sexuais.


O SUPOSTO RELACIONAMENTO COM DANIELLA PEREZ

Guilherme de Pádua e Daniella Perez
Guilherme de Pádua e Daniella Perez – Foto: Reprodução


Os primeiros capítulos de “A História que o Brasil Desconhece” são voltados a defender a ideia de que Daniella Perez e Guilherme de Pádua tinham entre si uma cumplicidade durante as gravações da novela. Em grande parte decorrente do desdém mútuo que nutriam por um certo diretor sádico, ali chamado apenas de Igo. E pela ideia de que ambos “acreditavam no amor verdadeiro”, ao contrário dos colegas de elenco, pintados como devassos hipócritas.


“Quando falavam de amor, comunicavam-se numa língua comum entre eles e estranha para os outros”, diz. “Amar era a coisa mais importante de suas vidas.”


A cumplicidade no trabalho, que envolvia troca de confidências sobre os respectivos casamentos, teria evoluído para uma atração incontornável e para algumas trocas de beijos entre os dois, facilitada pelo fato de que os personagens de ambos viviam um casal. Colegas de elenco até teriam tirado sarro da suposta entrega de ambos nas cenas românticas.


Ainda assim, Guilherme de Pádua se sentia culpado porque amava a mulher e o filho que ela esperava, diz no livro, o que o levou a passar tratar Daniella Perez com frieza no trabalho.


TV GLOBO, ‘O COVIL DOS DEUSES’


Os pais de Guilherme de Pádua, “mineiros de caráter inabalável”, não eram favoráveis a que ele trabalhasse na emissora carioca de televisão. Eles “não concordavam com alguns dos princípios que a Globo demonstra ter”.


Por várias vezes, o autor chega a dizer que o canal era um “covil de deuses”. No qual os atores veteranos tinham todas as regalias do mundo e no qual os emergentes puxavam o tapete um do outro. Menciona uma rixa entre Beatriz Segall e Maria Zilda Bethlem. E insinua, por exemplo, que Fábio Assunção, que fazia o personagem que disputava com Bira o amor de Yasmin, telefonava para Gloria Perez para pedir que seu papel tivesse mais espaço na trama.


“Os atores, em geral, demonstravam falta de caráter e de princípios absurda”, afirma no livro. “A carreira era mais importante que qualquer coisa. Possuir interesses profissionais era normal, ou melhor, comum em todas as profissões, mas a forma com que os atores agiram [após o crime] foi desleal.”

INFLUÊNCIA


Além disso, o hoje ex-ator afirma que a “Rede Globo de televisão exercia grande influência na opinião popular, definindo muitas vezes as decisões políticas tomadas no país”. Dando a entender que a emissora poderia destruir a reputação de qualquer pessoa.


Guilherme de Pádua chega a comparar o seu caso com o de Luiz Inácio Lula da Silva, que havia perdido as eleições presidenciais para Fernando Collor em 1989. Como se ambos fossem igualmente vítimas de um mesmo complô e que beneficiaria a corrupção do país.


“Depois do assassinato de Daniella Perez, para sorte dos corruptos do Brasil, aquele processo político [o impeachment de Collor] se extinguiu”, diz no livro. “A partir daí não se falou em outra coisa, senão no crime. Os verdadeiros criminosos puderam continuar impunes.”


PAULA THOMAZ, A ‘MULHER CIUMENTA’

Guilherme de Pádua e Paula Thomaz
Guilherme de Pádua e Paula Thomaz – Foto: Reprodução


Ex-mulher do autor do livro, Paula Thomaz já aparece nas primeiras páginas como uma mulher dada a arroubos violentos, que zombava da colega de seu marido e que não queria de jeito nenhum que os dois se beijassem em cena. Tanto é assim, diz ele, que foi ela quem armou a emboscada que acabou no assassinato de Daniella Perez.


O livro detalha o crime em si só no 16º e último capítulo. De acordo com a sua versão, que não foi aceita pela Justiça ao condenar ambos os réus por homicídio qualificado, De Pádua teria dito à mulher que ele e Daniella Perez haviam marcado uma conversa num lugar afastado dos holofotes. E que ele teria concordado que Paula Thomaz os seguisse em segredo, num carro de trás, após uma noite de gravação.


Eis que sua então mulher teria interrompido a conversa de ambos, e, no afã de apartar a briga entre as duas mulheres, o autor do livro teria sem querer golpeado Daniella Perez e a feito desmaiar. Quem desferiu as estocadas, diz ele, foi Thomaz, num ato de desespero, julgando, portanto, que ela já estava morta.


“Guilherme terminou de escrever seu livro sentindo-se ainda confuso, pensando que talvez ele devesse ter morrido e não Daniella”, é como ele opta por encerrar a obra. “Passaria o resto de sua vida buscando o porquê de ela ter partido e de ele ter ficado no imenso precipício que é a vida.”

GUILHERME GENESTRETI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

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