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Miliciano ligado a Flávio Bolsonaro foi preso três vezes antes de ser morto

Currículo do ex-capitão Adriano da Nóbrega, que estava foragido e morreu após troca de tiros com policiais na madrugada deste domingo (9), é extenso


Por Folhapress Publicado 09/02/2020
Foto: Reprodução

O currículo do ex-capitão Adriano da Nóbrega, que estava foragido e morreu após troca de tiros com policiais na madrugada deste domingo (9), é extenso. Inclui três prisões e solturas, uma expulsão da PM e duas homenagens do agora senador Flávio Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, além de ser investigado no caso da morte de Marielle Franco (PSOL).

A primeira prisão preventiva ocorreu em janeiro de 2004, pelo homicídio do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, 24. O então policial chegou a ser condenado no Tribunal do Júri em outubro de 2005, mas conseguiu recurso para ter um novo julgamento, foi solto em 2006 e absolvido no ano seguinte.

Leandro era morador de Parada de Lucas, na zona norte carioca, e havia denunciado policiais no dia anterior pela prática de extorsão e ameaça. Segundo a acusação, os agentes mataram o jovem e alteraram a cena do crime para tentar forjar um auto de resistência -quando o agente mata em confronto. Testemunhas, contudo, disseram que o rapaz fora morto sem ameaçar os policiais.

Enquanto ele ainda estava preso, em junho de 2005, Flávio Bolsonaro o considerou merecedor da Medalha Tiradentes, mais alta honraria da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj). Uma das razões foi o êxito ao prender 12 suspeitos no morro da Coroa, no centro, além de apreender diversos armamentos e 90 trouxinhas de maconha.

O então deputado estadual também já havia homenageado o policial dois anos antes, quando apresentou moção de louvor em seu favor. Segundo o senador eleito, Adriano desenvolvia sua função com “dedicação, brilhantismo e galhardia”. Jair Bolsonaro foi outro que o defendeu em discurso na Câmara dos Deputados em 2005.

Oito meses depois da absolvição de Adriano, em 2007, sua mulher, Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, foi nomeada assessora do gabinete de Flávio na Alerj, onde ficou empregada até o fim de 2018.

Ao longo desse período, Adriano seguiu acumulando uma série de acusações em sua ficha criminal. A segunda prisão veio em 2008, um ano depois da absolvição.

Desta vez a acusação era de tentativa de assassinato do pecuarista Rogério Mesquita. Ele foi novamente solto um mês depois, após o fim do prazo da prisão temporária. O atentado ocorreu devido a uma disputa pelo espólio do bicheiro Waldomir Paes Garcia, o Maninho.

A terceira prisão o ocorreu em 2011, de novo terminando em sua soltura. A captura aconteceu na Operação Tempestade do Deserto, resultado das investigações da mesma tentativa de assassinato que resultou numa denúncia contra os envolvidos.

No ano seguinte, ao alegar ausência de provas, o juiz Márcio Gava negou o seguimento do processo contra Adriano e a maioria dos acusados. As testemunhas ouvidas pela polícia que serviram como base para a denúncia não confirmaram os depoimentos à Justiça.

A relação com bicheiros, contudo, levou Adriano a ser exonerado da Polícia Militar em janeiro de 2014. Em um processo administrativo disciplinar iniciado em 2009, ele foi considerado culpado da acusação de atuar como segurança de José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, contraventor da máfia dos caça-níqueis.

Em abril de 2016, mais de dois anos após a expulsão da PM, a mãe de Adriano, Raimunda Veras Magalhães, se tornou a segunda da família a ser nomeada assessora do gabinete de Flávio na Assembleia. Raimunda e a mulher do ex-policial militar foram exoneradas no mesmo dia, em 13 de novembro de 2018, a pedido.

O senador afirmou que o responsável pela contratação delas foi Fabrício Queiroz, que assumiu o fato. Queiroz é o ex-assessor do senador investigado por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio e foi companheiro de Adriano no 18º Batalhão da PM.

Ele se tornou alvo do MP-RJ após o Coaf (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) identificar uma movimentação suspeita de R$ 1,2 milhão em sua conta bancária entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017.

Entre as pessoas identificadas como depositantes estão Raimunda Veras Magalhães e Danielle da Nóbrega, mãe e mulher do ex-capitão, respectivamente.

Adriano voltou ao noticiário no início de 2019, quando foi um dos 13 alvos de uma operação deflagrada pelo Ministério Público do Rio para prender milicianos das comunidades de Rio das Pedras e Muzema, na zona oeste carioca. Foi lá que dois imóveis desabaram em abril daquele ano, matando 24 pessoas.

Em um telefonema gravado com autorização da Justiça, Manoel Batista, espécie de administrador da milícia, apontou a ascendência do ex-policial no setor. “Eu tenho oito apartamentos naquele prédio. O resto é tudo do Adriano e do Maurício, entendeu”, afirmou Manoel a um interlocutor. Em outro diálogo, o ex-capitão é chamado de “patrãozão”.

Adriano ficou foragido desde então, até ser encontrado na madrugada deste domingo no município de Esplanada (BA). Segundo o governo baiano, quando os policiais chegaram ele efetuou disparos e, na troca de tiros, foi baleado. Ele teria sido levado a um hospital da região antes de morrer.

O ex-policial também era suspeito de integrar um grupo de assassinos profissionais do estado e de estar envolvido no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e de seu motorista Anderson Gomes, em março de 2018.

Em nota, o PSOL disse que exigirá explicações do governo da Bahia sobre as circunstâncias da morte do miliciano, que segundo o partido “era peça chave para revelar os mandantes do assassinato de Marielle e Anderson”.

Apesar das suspeitas, o Ministério da Justiça e Segurança Pública da gestão Bolsonaro não incluiu Adriano na lista dos mais procurados do Brasil no fim de janeiro, argumentando que “as acusações contra ele não possuem caráter interestadual, requisito essencial para figurar no banco de criminosos de caráter nacional”.

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