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Mães criam filhos com rigidez por medo de serem gays, diz escritora na Flip

A conversa, na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, foi mediada foi pela jornalista da Folha Anna Virginia Balloussier


Por Folhapress Publicado 25/11/2023

Mães criam filhos com rigidez por medo de serem gays, diz escritora.

Quando se perdem os meninos para o machismo? A psicanalista e colunista da Folha Vera Iaconelli é categórica: “No chá de revelação”.

A autora de “Manifesto Anti-Maternalista”, da editora Zahar, afirma que as mulheres criam seus filhos com um código muito rígido sobre o que é ser menino e o que é ser menina -muitas por medo de os filhos serem gays.

“Existe uma confusão entre transmitir (para os filhos a noção de) masculinidade e transmitir o machismo”, disse Vera, em mesa da Casa Folha com a também colunista da Folha, escritora e roteirista Tati Bernardi, autora de “Homem-Objeto e Outras Coisas Sobre Ser Mulher”, da Companhia das Letras.

“Os meninos crescem achando que ou são red pill (homens que detestam as mulheres e as veem como objetos sexuais) e incel (grupos de homens que são celibatários involuntários e se ressentem com as mulheres), ou precisam negar sua masculinidade”, disse a psicanalista.


A conversa, na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, foi mediada foi pela jornalista da Folha Anna Virginia Balloussier. Havia fila dobrando o quarteirão para entrar na Casa Folha, onde aconteceu o debate, que ficou lotada.


Segundo Vera, sobraram poucos homens que conseguem se orgulhar de uma masculinidade e entender que é muito diferente de uma relação de opressão, de machismo.

“Isso vai dar dor de cabeça para vocês; nós já temos a nossa dor de cabeça, de distinguir o que é ser mãe e ser mulher.”


Tati Bernardi e Vera debateram a mitificação da “mãe exausta”, a pressuposição de que a mãe precisa se sacrificar pelos filhos para ser digna da maternidade.

“Minha mãe sempre dizia que queria ficar grudada comigo, mas, infelizmente, tinha que ir trabalhar, para que eu pudesse ter coisas e ir para a escola. Mas eu sei que ela estava feliz indo trabalhar e tendo a vida dela, e isso era saudável”, lembra Tati.

Ela relatou que, ao ser indagada pela filha de seis anos por que precisava ir para a Flip, até pensou em responder que precisava trabalhar. Mas foi sincera, dizendo: “Porque eu quero muito ir”.

Isso não significa que ela não seja torturada pela culpa da mãe que supostamente não está se sacrificando. “Toda vez que viajo, sonho que minha filha está se afogando e não consigo chegar a tempo de salvá-la.”

As duas ressaltaram a diferença das experiências de maternidade entre mulheres brancas e pretas. Segundo Vera, existe um “esquema de pirâmide” na esfera do cuidado.

Sempre há uma mulher, normalmente preta, que cuida dos filhos de uma família, normalmente branca. Essa mulher preta, por sua vez, deixa seus filhos aos cuidados de outra mulher, muitas vezes também preta.

Mas, no final, sempre sobram algumas crianças que ficam sem o cuidado de que precisam, muitas vezes crianças pequenas tomando conta de irmãos menores.

“No final, temos as mulheres brancas pleiteando direito a não ter filhos, e as negras a ter filhos”, diz Vera.

“Sabemos dos sequestros dos filhos de mulheres negras e pobres pelo estado, a partir de acusações de negligência. Muitas dessas crianças acabam na fila de adoção, com a desculpa de que vão ser mais felizes do que com suas mães.”

A psicanalista afirma que tenta mostrar em seu livro as diferenças na experiência de maternidade de acordo com classe, gênero e raça.

“Temos uma maternidade em colapso, enquanto sociedade não conseguimos cuidar das próximas gerações. Tem sempre alguém sobrando, no relento.”

Tati afirmou se sentir “ridícula” ao reclamar sobre seus perrengues na maternidade, ao pensar que as mães pretas passam por dificuldades muito maiores.

Ela disse se irritar com amigas que têm “três babás, uma baita rede de apoio, um companheiro presente” e ainda assim se agarram a essa ideia de “mãe exausta”.

“A mulher branca cansada virou a nova bolsa do momento. A gente está cansada, sim. Mas a gente não está mais cansada que a mulher preta da periferia.”

Isso não significa que as mulheres brancas não têm sofrimentos e angústias com a maternidade, destaca Vera.

Esse pressuposto de achar que bens materiais resolvem tudo, segundo ela, é puramente capitalista. “Tipo compra um iPhone ou toma um remedinho que isso resolve sua angústia. Isso é balela.”

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