‘Não dava pra viver de HQ no Brasil’, diz Mike Deodato
Mike é filho de Deodato Borges, jornalista paraibano que foi um dos pioneiros dos quadrinhos nacionais
Mike Deodato Jr. é um dos principais quadrinistas brasileiros em atividade no exterior atualmente. Nascido em Campina Grande (PB), ele abriu caminho nos anos 1990 para que vários outros artistas nacionais ganhassem espaço no mercado internacional de HQs. Deodato trabalhou com personagens como Mulher Maravilha, Homem-Aranha e Vingadores, mas esses não foram os primeiros super-heróis em sua vida.
Mike é filho de Deodato Borges, jornalista paraibano que foi um dos pioneiros dos quadrinhos nacionais. Inspirado por publicações estrangeiras como The Spirit, de Will Eisner, e Flash Gordon, de Alex Raymond, e competindo com a radionovela Jerônimo: O Herói do Sertão, da Rádio Nacional, Borges idealizou um dos primeiros super-heróis do País. As Aventuras do Flama foi ao ar na Rádio Borborema pela primeira vez em 1963, e no mesmo ano ganhou as páginas dos gibis.
Tendo os quadrinhos no sangue, Mike recebeu apoio do pai, com quem produziu 3000 Anos Depois e Ramthar. Em 1994, iniciou a trajetória nos heróis estrangeiros já com a Mulher-Maravilha. Ele trabalhou em diversas edições da DC Comics e foi, por 24 anos, artista da Marvel, de onde saiu em 2019 para se dedicar à sua veia autoral.
Ao lado de Jeff Lemire, criou Berserker Unbound, sobre um guerreiro medieval que se vê transportado para os dias contemporâneos. A obra teve quatro volumes e deve chegar ao Brasil em fevereiro, pela editora Mino. Em parceria com Michael Straczynski, um dos criadores de Sense8, Deodato está criando um multiverso de super-heróis para a editora AWA, liderada por Axel Alonso e Bill Jemas, ex-executivos da Marvel. A nova série, intitulada The Resistance, chega em 2020.
Leia entrevista exclusiva com Mike Deodato ao jornal O Estado de S. Paulo.
Como você vê o atual momento dos quadrinhos no Brasil?
Eu vejo um retorno à glória que os quadrinhos tinham antes. Os quadrinhos já tiveram esse poder de penetração, que se perdeu por conta da competição com a internet, os videogames e outras mídias.
Qual herói você mais gostou de desenhar na sua carreira?
Foram tantos… Gostei muito de fazer Thanos, com Jeff Lemire. Velho Logan, o Hulk também. Thunderbolt, que eu fiz com Warren Ellis. E Dark Avengers, com Brian Michael Bendis.
Hoje em dia, muitos brasileiros trabalham para Marvel e DC, mas você foi um dos primeiros a abrir caminho. Como foi?
As dificuldades começaram no Brasil mesmo. Nos anos 1970 e 1980, eu ganhava pouco, mas gostava. Na época, morava com meus pais. Trabalhei com meu pai, ele escrevendo e eu desenhando, por um tempo. Mas não dava para viver de quadrinhos no Brasil naquela época.
Como foi a relação com seu pai?
Painho foi o começo de tudo, minha grande influência. Eu comecei a fazer quadrinhos influenciado por ele. Acabamos produzindo juntos, ele escrevendo e eu desenhando, por alguns anos, então eu tive uma verdadeira aula de narrativa com os roteiros dele. Embora ele nunca tenha me dado uma aula formal, ele me apresentou todos os clássicos que importaram na minha formação.
Como foi sair da Marvel para apostar em projetos autorais?
Depois de 24 anos maravilhosos na Marvel, decidi migrar porque sentia essa necessidade de fazer alguma coisa autoral. Tentei conciliar as duas coisas, mas diferentemente de um roteirista, que pode escrever dez títulos por mês, um desenhista mal pode fazer dois. Ou eu vivia meu sonho de infância de ser um quadrinista da Marvel, ou meu sonho de adulto, que era ser um quadrinista autoral. A sensação que eu tenho é a de quando estava começando. Com 56 anos, estou me sentindo com 17 agora. É fantástico.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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