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Fãs de Raul Seixas fazem encontros online e recordam sucessos no aniversário do músico

Muitos homenageiam a existência do que é considerado "pai do rock brasileiro" no dia de seu nascimento: 28 de junho de 1945, há exatos 75 anos


Por Folhapress Publicado 28/06/2020 Atualizado 29/06/2020
Foto: Reprodução/Agência Brasil

Todo e qualquer fã ou admirador de Raul Seixas leva consigo o dia 21 de agosto na memória. Há quem diga que a data de sua morte seja o momento de exaltar o legado deixado pelo cantor baiano, que moveu e ainda move milhares de pessoas com suas canções.

A passeata anual “raulseixista” acontece nessa data desde o ano seguinte à morte do artista, em 1989, nas escadarias do Theatro Municipal, no centro de São Paulo. Apesar disso, tem que prefira também celebrar a existência de Raul no dia de seu nascimento: 28 de junho de 1945, há exatos 75 anos. Desta vez, com uma comemoração virtual e atípica, devido à pandemia do novo coronavírus, os milhares de fã-clubes do cantor espalhados pelo Brasil celebram a existência do ídolo através de transmissões ao vivo nas redes sociais.

A Semana Viva Raul, organizada pelos kavernistas [nome adotado em homenagem ao segundo álbum do músico] é apenas um dos festejos que acontecem nesta data que prestigia a vida do “pai do rock brasileiro”. A Warner Music Brasil, responsável por lançar quatro álbuns do artista, entre eles “Mata Virgem” e “A Panela do Diabo”, anunciou um compilado de 30 faixas de Raul Seixas -disponível em todas as plataformas de streaming- como uma forma de homenagear sua contribuição para o universo musical. Desde os 16 anos participando de eventos destinados ao artista, a pedagoga Gabriela Mousse, 38, afirma que nos últimos três anos as celebrações realizadas no dia do aniversário do cantor se tornaram mais populares até mesmo entre os fãs.

“A galera não comemorava muito, o aniversário realmente ficou apagado por muito tempo, mas para nós, são 75 anos com Raul. Ele é imortal, tanto que usamos o slogan: ‘Raul vive'”, diz Mousse, que é uma das responsáveis por organizar a passeata anual “raulseixista” na região do ABC paulista. “Celebramos Raul sempre, porque não vamos cantar parabéns se falamos que ele é eterno?”, completa a pedagoga, que mantém aos domingos o programa “Mosca na Sopa”, na rádio web Plano B, dedicada ao ídolo.

Raul Seixas, dono de um legado de 26 anos e 17 discos lançados, também gostava de celebrar datas de nascimento. Johnny Boy Chaves, músico com quem Raulzito gravou seu último disco, “A Panela do Diabo”, conta que flagrou o cantor admirando seu ídolo, Elvis Presley, em um dia 8 de janeiro. “Nunca me esqueço quando cheguei na casa dele, no dia de aniversário do Elvis.” Apesar de ter iniciado a carreira em 1968, quando integrou o grupo Raulzito e os Panteras, o cantor baiano ganhou notoriedade com seu primeiro disco solo, “Krig-ha, Bandolo!”, de 1973. Seu estilo contestador e místico chamou atenção e, a partir daí, emplacou uma lista de canções que ecoam até hoje, entre elas “Metamorfose Ambulante”, “Ouro de Tolo”, “Mosca na Sopa”, “Tente Outra Vez”, “O Dia Em Que a Terra Parou” e “Cowboy Fora-da-Lei”.

Mas para Johnny Boy, o fato de o colega ter ganho ainda mais relevância após sua morte se explica pela comoção pública. “Virou um certo estigma, mas o nascimento foi antes de toda essa loucura. Raul deixou muito claro que ele era um ator, que viveu esse personagem que ele mesmo criou. Se a gente for ver a trajetória dele, era um cara comum de barba, óculos e paletó”, diz o músico, que ressalta a importância de homenagear o aniversário do amigo.

AMOR DE GERAÇÕES

Entre utopias e ideais que defendia fervorosamente, como a Sociedade Alternativa, Raul Seixas cativou, e ainda cativa, diferentes gerações. O estudante de administração Lucas Babics tem um carinho para lá de especial por Raulzito. Aos três anos, ele perdeu o pai, um grande fã do artista. “Sempre que ouço não deixo de lembrar, é uma conexão que criei com a música dele.” “Na maioria das músicas Raul fala sobre a morte, a vida, é uma maneira de lidar e entender a magnitude de certas coisas”, acrescenta Babics, que diz ainda que aos dez anos aprendeu a tocar violão por causa do artista. “Tinha um CD com 25 músicas baixadas do Raul. Foi assim meu início na música, hoje em dia toco outros instrumentos e componho.”

Para Johnny Boy o motivo pelo qual o intérprete de “Gita” ainda consegue se conectar com as pessoas, independentemente de suas idades, é pela sutileza em transmitir mensagens impactantes. “Com o passar do tempo as pessoas foram decodificando esses significados.” A linguagem utilizada por Raul em suas canções é algo que Babics também destaca. “É muito simples, por isso ele se tornou o grande artista da música popular brasileira. Não tem grandeza técnica.” Um exemplo é sua avó Maria Brasília, 80, que também escuta Raul Seixas, mesmo com o mal de Alzheimer. “Ela sempre lembra das letras. Escutamos Raul Seixas juntos.”

O ÍDOLO RAUL

Autor do livro “O Raul Que Me Contaram” (2017), Tiago Bittencourt, 34, diz que sua história com o músico baiano não foi de amor à primeira vista. “Achava meio megalomaníaco”, conta o escritor sobre a canção de sucesso “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás”, de 1976. Foi apenas na adolescência que a identificação com as letras e filosofias revolucionárias de Raul, começou a surtir efeito em sua vida. “Acreditava que ia mudar o mundo e ele era a minha trilha sonora.” A partir de então, além de colecionar discos, Bittencourt mergulhou nos livros sobre a história do cantor, sem imaginar que 20 anos depois, escreveria sua própria obra com relatos de pessoas ligadas diretamente ao músico, como a ex-mulher Kika Seixas, Roberto Menescal, e o cantores Marcelo Nova e Jerry Adriani, entre outros nomes.

Hoje atuante da cena “raulseixista”, o escritor diz que precisou abandonar seu “olhar de fã” para conseguir compreender o artista e a pessoa. “Quis abordar o alcoolismo, e não foi doloroso para mim. Muita gente me pergunta como lido com as críticas relacionadas a Raul e eu falo: ‘Ele não é meu pai’. A história é do jeito que ela é, não tem essa coisa de passar pano.”

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