Guitarrista dos Strokes diz que novo disco fez banda se sentir ‘inocente de novo’
Em abril, eles lançaram "The New Abnormal", primeiro disco de inéditas em sete anos -que pareciam mais tempo
Os Strokes retornaram com força máxima em 2020. Não que a banda tenha retomado a relevância de 15 ou 20 anos atrás, quando despontaram com uma sonoridade roqueira retrô e desleixada que influenciou gerações de músicos nos anos seguintes, mas recuperando uma sinergia que há muito não se via no quinteto.
Em abril, eles lançaram “The New Abnormal”, primeiro disco de inéditas em sete anos -que pareciam mais tempo. Isso porque “Comedown Machine”, o álbum anterior da banda, de 2013, passou quase batido, sem turnê ou fotos de divulgação, sem videoclipes, entrevistas promocionais ou aparições na TV. Até a capa trazia apenas o símbolo da gravadora deles, a RCA Records.
“Acho que foi uma mistura das duas coisas”, diz Albert Hammond Jr., guitarrista dos Strokes, falando sobre a decisão ter envolvido tanto uma falta de interesse dos integrantes quanto uma ideia conceitual de simplesmente lançar as músicas sem dar muita explicação. De qualquer forma, ele diz, “The New Abnormal” tem outra gênese.
Os Strokes se reuniram para trabalhar em novas músicas em 2017, logo depois de tocar no Lollapalooza Brasil daquele ano. “Tínhamos pedaços de músicas, e mostramos para Rick [Rubin]. Ele gostou e queria fazer o disco.”
O renomado produtor, desde os anos 1980, já trabalhou com todo mundo –de Beastie Boys a Slayer, de Kanye West a Lady Gaga. Foi ele quem produziu todas as faixas do novo álbum, ainda que “The New Abnormal” não transpareça uma presença externa tão forte.
Segundo Hammond Jr., Rubin teve um papel fundamental. “Ele criou uma atmosfera para que fôssemos uma banda novamente”, diz. “E é nisso que está a nossa força. É você reencontrar pessoas que, quando estão tocando juntas, é algo mágico. Ele permitiu isso, o que foi incrível.”
Entre as medidas de Rubin estavam uma espécie de sessão de improviso, ou aquecimento, para colocar a banda em forma antes de gravar ou desenvolver uma nova faixa. “Quando estávamos no estúdio, a pedido dele, costumávamos tocar por tipo uma hora, de meio-dia às 13h, e depois íamos trabalhar nas músicas.”
O guitarrista prefere não comentar, mas parte das razões pelas quais os Strokes produziram tão pouco na última década estão relacioandas à dificuldade para conciliar as ideias de cinco mentes diferentes. Não à toa, todos os integrantes tocaram projetos paralelos nos últimos anos.
Entre fãs e imprensa, a impressão é de que o desacordo geralmente se dá entre o vocalista Julian Casablancas -cujas ideias amalucadas acabaram em seu projeto solo, o Voidz- e o restante do grupo. “Isso é um assunto bom para comentar quando eu estiver perto de morrer. Mas não agora.”
A influência de Rubin, segundo o guitarrista, pode ser melhor sentida em faixas como a balançada “Eternal Summer”. Mas o grande mérito do produtor foi permitir que os Strokes voltassem a se sentir livres da pressão de fazer um disco à altura do próprio legado.
“Ele é uma pessoa boa para decidir por que caminhos uma música vai seguir. Somos pessoas com ideias diferentes. E ele é bom em decidir, em fazer acontecer.
“Todo mundo, de um jeito bom, estava se dedicando ao que estávamos fazendo, tentando deixar aquilo fluir um pouco. E quando alguém pega a responsabilidade e a coloca sobre os próprios ombros, aí conseguimos nos sentir jovens novamente. É uma sensação única. Se sentir inocente de novo.”
A atmosfera pode ser sentida em “The New Abnormal”, talvez o álbum que mais soe como os Strokes há mais de uma década. Tanto de um jeito literal, quando a banda busca sua sonoridade clássica, como nos momentos mais improváveis -é como se os Strokes estivessem se divertindo ao fazer música novamente.
O clima leve está refletido na capa, uma arte colorida de Jean-Michel Basquiat que, para Hammond Jr., é apenas uma tentativa de representar em imagem a estética da música. “Nem acredito que os familiares liberaram o uso.”
Já o título (“o novo anormal”, em português) era uma ideia mais abstrata, que acabou, de uma maneira não proposital, casando até com o momento de pandemia e isolamento social que o mundo vive.
Hammond Jr., que está em quarentena em sua casa em Los Angeles. Tem saído de casa apenas para passear com os cães e ido ao mercado comprar comida. Ele é um dos pilares da estética dos Strokes, com linhas de guitarra que crescem em uma conversa entrosada com Nick Valensi, outro guitarrista da banda.
Nos melhores momentos do grupo, as duas guitarras não competem entre si, mas se complementam. “Sempre trabalhamos com a ideia de dois guitarristas. Quando entrei, o Julian tocava guitarra, mas eles tocavam os mesmos acordes. Isso podia ser tedioso em muitos momentos.”
Ele conta que, a cada álbum, há um esforço para melhorar sua habilidade com o instrumento. Mas, pelo menos em “The New Abnormal”, diz o guitarrista, “a música tem que ser nosso melhor instrumentista”.
“Quando você faz algo legal, o que é realmente importante é que você faça no momento certo, para que funcione na música.”
Para Hammond Jr., o segredo dos Strokes está na força coletiva. “Não é sobre o indivíduo, é sobre o todo. Quando você está junto a outras pessoas, você está buscando algo maior. E esse é o maior desafio -criar emoções usando todos esses elementos. Às vezes é fácil. Em outras horas, é mais complicado.”
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