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Sem ‘Chaves’ na TV, fãs brasileiros dizem tirar DVDs das gavetas para ver seriado

Notícia caiu como uma bomba na sexta passada (31), quando o SBT anunciou que, após 36 anos, deixaria de exibir episódios de "Chaves"


Por Folhapress Publicado 06/08/2020
Foto: Reprodução/Televisa

Fãs de Chaves e Chapolin Colorado estão desesperados com o fim da exibição dos seriados do grupo Chespirito em todo o mundo. Sem acesso aos programas que acompanham desde a infância, muitos decidiram tirar os DVDs do armário.
A notícia caiu como uma bomba na sexta passada (31), quando o SBT anunciou que, após 36 anos, deixaria de exibir episódios de “Chaves”. Também não é mais possível acompanhar as confusões dos personagens criados por Roberto Gómez Bolaños (1929-2014) no canal pago Multishow ou na plataforma Amazon Prime.

O mesmo aconteceu em outros países que exibiam os seriados. E, para piorar, episódios disponíveis no YouTube já começam a desaparecer.

Os fãs de Chaves temem que esse “apagão” inédito prejudique de forma irreversível o reconhecimento da obra de Bolaños. No Brasil, o seriado foi exibido na TV aberta em todas as faixas de horário (manhã, tarde, noite e madrugada), fazendo-se presente no dia a dia do brasileiro por quase quatro décadas.

Para o jornalista Luís Joly, um dos autores do livro “Chaves: Foi Sem Querer Querendo?” (editora Matrix), uma das razões para o sucesso de “Chaves” é exatamente essa presença longeva nos lares, com reprises ao longo dos anos. “O alcance na TV é inegável. O programa é querido geração após geração justamente por ser reprisado todos esses anos. É um elo entre várias gerações.”

Fã dos programas desde a infância, o dublador Gustavo Berriel, 35, que dá voz ao personagem Nhonho, afirma que recebeu com espanto a notícia. “Foi um choque.” Ele diz acreditar que a situação ainda será revertida. “Não tem como ficar órfão [do programa]. É parte fundamental de várias gerações. Devem chegar a um acordo.”

“Senti que tinha algo errado, mas não imaginei que fosse atingir o SBT tão rápido. Foi tudo de supetão”, diz o tradutor Eduardo Gouvêa, 34, ao recordar comunicado do Multishow, em meados de julho, avisando que a série não seria mais exibida naquele canal. Ao lado de Berriel, ele traduziu os episódios transmitidos pela emissora.

Felipe Ernesto, 31, dono do canal “Vila do Chaves” no YouTube, teme que em breve não encontre nenhum programa de Chespirito na internet. “A tendência é não ter mais em lugar nenhum. O YouTube ainda tem alguns episódios, mas já estão sendo bloqueados.”

Para o tradutor Pedro de Abreu, 31, retirar o programa do ar pode ter sido um tiro no pé. “Vai prejudicar a obra do próprio Bolaños, porque as pessoas vão se acostumar a não assistir mais e vão perder o interesse”, afirma o fã, dono da página do Facebook “Chaves Fotos Raras”, que não pretende perder o costume de ver o seriado.

“Vou tirar meus DVDs do armário. Muitos fãs vão baixar os episódios ilegalmente. Ninguém sabe o que está acontecendo exatamente, mas eu tenho esperança que tudo voltará a ser como antes”, diz Abreu, que passou sua paixão pelo seriado para a sobrinha Maria Flor, 9. “Nasci vendo o ‘Chaves’ e eu acho muito engraçado. Meu tio sempre pôs para mim, por isso eu gosto”, afirma a garota.

Primeira dubladora da Chiquinha no Brasil, Sandra Mara afirma que a leveza de “Chaves” fará falta neste momento de pandemia. “Em algum momento, você se espelha naquelas histórias, ressoa dentro de nós, pois remete às nossas próprias histórias.”

Para a dubladora, que deu voz à personagem de voz esganiçada durante anos, as mensagens sociais do programa vão se perder.

“‘Chaves’ representa nossa realidade, mas não só do brasileiro, de toda a América Latina. A Chiquinha, por exemplo, com aquele jeito malandro e esperto, que faz o Quico e Chaves comerem em suas mãos, é uma personagem que representa a independência da mulher, ela tem personalidade e sabe se virar. Essa, que poderia continuar sendo uma referência feminina, corre o risco de sumir. É triste.”

SUCESSO DE PÚBLICO

A audiência do seriado sempre foi alta no Brasil, independentemente do horário em que era exibido. De acordo com os dados mais recentes do SBT, de 25 de julho, entre as 4h e as 8h, “Chaves” e Clube do Chaves (Chapolin, Chaves, Chaveco, Pancada, Dr. Chapatin e Dom Caveira) alcançaram 3 pontos na Grande São Paulo -o total equivale a 219 mil domicílios.

Segundo o SBT, na primeira semana de exibição (a estreia na emissora foi em 31 de dezembro de 1984), “Chaves” alcançou média de 1,5 milhão de telespectadores por dia, dentro do TV Powww, exibido à tarde. Luís Joly compara a situação de “Chaves” com a de “Os Trapalhões”, que deixaram de ser transmitidos pela Globo em 1995 (mesmo ano em que Bolaños parou de gravar seus programas).

“Quem dessa geração conhece ‘Os Trapalhões’? Quase ninguém, a não ser por alguns memes do Mussum, talvez. Fico me perguntando o que teria sido da trupe brasileira se tivessem continuado na grade da emissora”, lamenta Joly.

O fã brasileiro demonstra ser o mais abalado e comovido com a situação, e foi o que mais agiu. Circula no país um abaixo-assinado, chamado “#VoltaCH”, com mais de 35 mil assinaturas para o retorno dos programas – o que aconteceu em proporção bem menor em países como Argentina.

O SBT diz que não houve problemas de negociação com a Televisa. A emissora mexicana, diz nota do SBT, perdeu os direitos e por isso não poderá mais vender o seriado para o mundo inteiro. A nota da emissora de Silvio Santos segue dizendo que “assim como os fãs, o SBT está na torcida pela volta dos seriados”.

O Multishow afirma que o contrato com a Televisa para a exibição de Chaves e Chapolin se encerrou no dia 31 de julho. A emissora diz que segue tentando avançar com a negociação para manter a atração no canal, “mas sem garantia da renovação.”

O Amazon Prime Video afirma não ter muito o que comentar, “pois o conteúdo saiu do serviço porque o contrato de licenciamento terminou.”

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