Dólar supera R$ 5,20; perda na Bolsa já é quase igual à de 2008
Diferença das fortes quedas em 2020 para a última crise financeira está na velocidade da interrupção do mercado
Após superar os R$ 5,25 durante o pregão desta quarta-feira (18), a cotação do dólar fechou a R$ 5,2010, alta de 3,97%, segundo cotação da CMA.
O turismo está a R$ 5,3260 na venda. Em algumas casas de câmbio, a moeda chega a ser vendida acima de R$ 5,45. Em 2020, o dólar sobe 29,6% ante o real, o que o deixou R$ 1,187 mais caro.
A forte valorização da moeda na sessão foi contida por intervenções do Banco Central (BC). A autarquia fez três leilões da moeda à vista ao longo do dia, que totalizaram US$ 860 milhões. Também foram vendidos US$ 2 bilhões em leilão de linha -venda com compromisso de recompra.
O pregão foi marcado por forte aversão a risco devido aos temores de investidores quanto a uma recessão global provocada pelas medidas de combate ao coronavírus.
Com o recuo de 10,35% nesta quarta, a Bolsa brasileira se assemelha a 2008, ano da última crise financeira. O Ibovespa, maior índice acionário da Bolsa brasileira, acumula queda de 42% em 2020. Em 2008, o índice caiu 41,22%, em termos nominais (sem contar a inflação).
Segundo dados da Economatica, a queda em 2008 corrigida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) é de 44,50%. Se a correção inflacionária for media pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna), a queda naquele ano foi de 46,12%.
Em termos nominais, a queda do Ibovespa em 2020 é a segunda pior da história do índice, criado em 1967 e computado a partir de janeiro de 1968. Segundo a Economatica, apenas a queda de 1972 supera este ano, com recuo de 44,4%.
Corrigida pelo IPCA, a queda é de 51,97%.
Nesta quarta, o Ibovespa fechou em 66.894 pontos, menor patamar desde agosto de 2017. À época, a Bolsa se recuperava da forte queda de 18 de maio daquele ano, conhecido como Joesley Day, quando o Ibovespa caiu 8,8% e foi a 61 mil pontos após divulgação de conversa comprometedora entre o empresário Joesley Batista e o então presidente Michel Temer (MDB).
Neste pregão, foi acionado o sexto circuit breaker de março, igualando a quantidade de paralisações a 2008. O mecanismo é acionado em quedas superiores a 10%, 15% e 20%, e suspende as negociações por 30 minutos, 1 hora e tempo indeterminado, respectivamente.
A diferença das fortes quedas em 2020 para a última crise financeira está na velocidade da interrupção do mercado.
Os seis circuit breakers de 2008 ocorreram em um intervalo de quatro semanas.
Nesta crise causada pelo coronavírus, as seis interrupções ocorreram em dez dias.
Nesta quarta, a Bolsa se aproximou do sétimo circuit breker, com queda de 14,8% durante a tarde, mas acompanhou as Bolsas americanas e amenizou quedas.
Nos Estados Unidos, Dow Jones caiu 6,30%, S&P 500, 5,18% e Nasdaq, 4,70%. Tanto a Bolsa de tecnologia Nasdaq quanto a Bolsa de Nova York também acionaram o circuit breaker no pregão.
O mercado financeiro derrete desde que investidores perderam a capacidade de medir os potenciais danos econômicos causados pelo coronavírus.
Economias inteiras estão sendo paralisadas para conter a pandemia, e o número de infectados e mortos não para de aumentar.
Na China, onde o surto parece estar controlado, apenas em janeiro e fevereiro o comércio caiu 20%, os investimentos quase 25% e a indústria recuou mais de 10%.
Na projeção do banco Goldman Sachs, a economia chinesa deve avançar 3% neste ano. Se a projeção se confirmar, será o pior resultado alcançado pela economia chinesa desde 1976, quando o país foi atingido por um terremoto e pelas incertezas criadas pela morte de Mao Tsé-Tung.
Essa freada chinesa disseminou a convicção pelo mundo de que outros países devem entrar em recessão por causa da pandemia, apesar de todas as medidas de estímulo econômico anunciadas. Os Estados Unidos, por exemplo, pedem US$ 1 trilhão ao Congresso para conter a crise, e a taxa de juros do país foi levada para perto de zero após duas decisões extraordinárias do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA).
No Brasil, ao cenário negativo se soma a perspectiva de piora no âmbito fiscal com o aumento de gastos e piora na arrecadação devido ao coronavírus.
Caso o pedido do governo de Jair Bolsonaro ao Congresso, para que seja decretado estado de calamidade pública até 31 de dezembro, seja aceito, o governo federal não precisaria obedecer o limite de déficit (diferença entre receita e despesa) previsto em lei para este ano, de R$ 124,1 bilhões.
“Em outras palavras, o Brasil, que estava com grande preocupação em torno da melhoria do seu gasto fiscal quer adotar uma ação que vai gerar impacto de custo e de arrecadação. O mercado está preocupado e acreditamos que as coisas devem piorar antes de melhorar nos próximos dois meses, o que vai mexer muito com o emocional dos investidores”, diz Thiago Salomão, analista de ações da Rico Investimentos.
A piora na perspectiva fiscal e a crise do coronavírus fizeram o CDS (Credit Defautl Swap) de cinco anos subir 22,73%, a 378 pontos, maior valor desde 8 de abril de 2016, antes da Câmara dos Deputados autorizar a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT).
O CDS é um índice acompanhado pelo mercado financeiro para avaliar a capacidade de um país honrar suas dívidas. Neste ano, ele acumula alta de 280%, a maior valorização anual da história do índice, criado em 2001.
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