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Gigante dos contêineres diz que economia brasileira preocupa mais que coronavírus

O efeito pode aparecer no segundo trimestre do ano, quando aumenta a demanda por contêineres refrigerados na América do Sul, para o escoamento principalmente de frutas


Por Redação Educadora Publicado 05/03/2020
Porto de Shangai. Foto: Divulgação

O desempenho fraco da economia brasileira é considerado mais preocupante para a Maersk, maior empresa de contêineres do mundo, do que os efeitos da epidemia do coronavírus sobre o fluxo de comércio com a China.

Em relatório divulgado na quarta-feira (4), a gigante dinamarquesa calcula um crescimento de 3,8% em 2020, menos do que os 4,5% estimados no ano passado.

“A redução está mais ligada à recuperação econômica do que de fato à postergação do Ano-Novo chinês”, diz o diretor comercial da empresa para Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai, Gustavo Paschoa.

Para Matias Concha, diretor de produto da Maersk para esses países, o comércio exterior no Brasil impõe desafios logísticos, devido à baixa densidade da malha ferroviária. Além disso, diz que o país precisa avançar em reformas de modo a dar confiança aos investidores. A tendência, afirma, é positiva.

Os efeitos da epidemia do coronavírus diante da dependência mundial da China podem ter sido mitigados pelo feriado do Ano-Novo chinês. Como a pausa já é esperada, a gigante do setor logístico diz que a duração mais longa não deve ter efeito no comércio exterior.

Apesar de os portos chineses terem ficado congestionados, o fluxo de exportação a partir da China não teve interrupção e a Maersk considera que a situação vem se normalizando há uma semana.

O diretor de produto Matias Concha, diz que, neste momento, não há perspectiva de faltar contêineres para escoar os produtos que deixam o Brasil, mas que a empresa não descarta esse risco. “A gente vê que poderia acontecer e estamos monitorando isso de perto, mas por enquanto não tem problema nenhum com disponibilidade de contêiner”, afirma.

Concha diz também o setor logístico é muito vulnerável a oscilações -um vírus ou uma guerra comercial entre países, por exemplo–, o que os obriga a ter uma margem, o que permitiria um planejamento que reduz o risco de disponibilidade.

O cancelamento de algumas partidas, os chamados blank sailings, já eram esperados. “Temos esses cancelamentos tradicionalmente, mas devido ao Ano-Novo chinês e esse ano a gente postergou”, diz Paschoa.

Segundo o relatório da empresa, os principais terminais de contêineres em Xingang, Xangai, Tanjin e Ningbo ainda estão cheios. O diretor comercial diz que a situação afeta principalmente as cargas refrigeradas.

Em algumas cidades, os terminais estão cobrando sobretaxas para clientes com esse tipo de carga, que pode ser proteína animal, saída do Brasil, peixes, do Uruguai, além de frutas brasileiras e argentinas, o que levou a Maersk a recomendar o uso de armazéns.

De acordo com a companhia alemã Hapag-Llloyd, o congestionamento nos portos chineses agora está no tráfego de caminhões. Com tantos caminhoneiros tentando entrar e sair, a infraestrutura está travada.

Nos terminais que recebem carga refrigerada, a situação começa a melhorar e deve ser normalizada em pelo menos dez dias. Nos piores dias, faltaram tomadas para os contêineres serem mantidos na temperatura.

Atualmente, o nível de produção nas fábricas chinesas está em 80%, e no transporte de caminhões e trens ferroviários, em 60%. Essa redução, segundo Concha, tem efeito em toda a cadeia, no volume do que é produzido. “Mas quanto à carga do Brasil, do que sai daqui, estamos operando com normalidade”, diz.

A queda na produção chinesa, que resulta em menos contêineres embarcados e, portanto, menos disponibilidade para o envio de mercadorias brasileiras ainda não é considerada um problema, segundo os executivos da Maersk.

O efeito pode aparecer, porém, no segundo trimestre do ano, quando aumenta a demanda por contêineres refrigerados na América do Sul, para o escoamento principalmente de frutas. Tradicionalmente, o período é considerado desafiador.

“Quando tem uma situação anormal, há um risco, mas não estamos vendo nada disso no momento, mas estamos monitorando essa situação”, diz Matias Concha.

O Porto de Roterdã, na Holanda, informou estimar um impacto de 2 milhões de toneladas em produtividade a cada mês em que a epidemia continue e que “uma parte substancial desse volume é de contêineres”. Segundo balanço do ano passado, a produtividade média mensal no porto holandês foi de 39 milhões de toneladas, considerando todos os tipos de cargas.

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