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PIB deve recuar 3% em 2020 com crise do coronavírus, diz Meirelles

Segundo o ex-ministro da Fazenda, o PIB brasileiro vai cair cerca de 10% no segundo trimestre


Por Folhapress Publicado 25/03/2020
Foto: Governo do Estado de São Paulo

O secretário de Fazenda e Planejamento de São Paulo, Henrique Meirelles, afirmou nesta quarta-feira (25) que o PIB do país deverá recuar 3% neste ano com os impactos da crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.

Meirelles disse que sua projeção leva em conta o prognóstico de infectologistas de que a pandemia deverá se arrastar por até mais quatro meses, demandando a manutenção de medidas restritivas à circulação de pessoas.

Segundo o ex-ministro da Fazenda, o PIB brasileiro vai cair cerca de 10% no segundo trimestre.

“Temos em seguida um processo de recuperação baseado na estimativa dos infectologistas sobre a duração da crise. Se a crise estiver no seu período final ao redor de julho, teríamos um processo de recuperação [na sequência], com uma média do PIB para o fim do ano de 3% negativos”, afirmou.

Em São Paulo, estado que concentra o maior número de infectados pela Covid-19, a estimativa é de uma queda de cerca de 10% no ano, de acordo com Meirelles.

“Nossas expectativas são de uma queda intensa de receita em abril e no trimestre, mas voltando a se recuperar durante o ano. A perda de arrecadação no ano seria de um pouco menos que 10%. Em abril seria de 30% em relação a março.”

O secretário, que participou de uma live realizada pelo banco BTG e pela revista Exame, criticou também a postura de Jair Bolsonaro diante da crise. Para Meirelles, o clima de divisão e confronto fomentado pelo presidente prejudica o país.

Meirelles criticou o pronunciamento presidencial feito na noite de terça (24), em que Bolsonaro chamou o coronavírus de “gripezinha” e criticou as medidas restritivas impostas por governadores.

“Recebi muito mal [a fala de Bolsonaro]. Cabe ao presidente da República preservar as vidas. Em seguida, vamos trabalhar na recuperação da economia. O presidente optou por entrar numa chamada crise de negação, efeito psicológico em que o paciente, o doente, recusa-se a ver o que está acontecendo, a enxergar a realidade, por alguma conveniência de cunho pessoal.”

O secretário defendeu que os governos sigam as orientações da OMS e de infectologistas sobre como combater a crise.

“Temos que ser realistas. Quando eu era presidente do Banco Central em 2008, conhecia totalmente a causa da crise no Brasil e pude prever rapidamente qual seria a duração da crise. Agora, não temos causas econômicas e financeiras, mas sim uma pandemia. […] Para fazermos a projeção de saída, dependemos da duração da pandemia, dependemos da previsão dos médicos, dos infectologistas. No Brasil, a pandemia está se iniciando”, disse.

Meirelles defendeu que os governos federal e estaduais façam medidas anticíclicas para mitigar os efeitos econômicos da crise.

“Não podemos tratar a situação de crise como uma situação de normalidade. Neste momento, o próprio teto de gastos prevê normas de formas de saída para situações como estas de pandemia. Abre-se uma exceção e tem que se usar todos os recursos possíveis para a saúde da população, com leitos, hospitais de campanha, confinamento. Saúde é o fundamental. Depois disso, voltando-se a normalidade, o teto de gastos tem que ser seguido.”

Meirelles afirmou que o Desenvolve São Paulo vai disponibilizar R$ 2,5 bilhões em empréstimos a pequenas e médias empresas a juros mais baixos que os de mercado e condições de carência estendidas para que possam ter condições financeiras de passar pela crise, mas disse que os bancos privados não podem se retrair neste momento.

“Os bancos têm que continuar a conceder os empréstimos. Devem abrir linhas de crédito para as empresas em dificuldade e estender prazos de pagamento. Não podem agudizar a crise, precisam manter pleno funcionamento. Se deixar tudo na mão do governo, teremos problemas.”

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