Em eleição acirrada nos EUA, participação deve ser a maior em 120 anos
Nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, o voto não é obrigatório
O resultado da eleição presidencial americana ainda era desconhecido na manhã desta quarta (4), mais de 12 horas após as primeiras urnas fecharem, mas uma coisa era certeira: o comparecimento dos eleitores neste 3 de novembro foi histórico, e, segundo o US Elections Project, que monitora o índice, deve bater os 160 milhões.
Se o número se confirmar, terão votado 67% dos americanos aptos a fazê-lo. O percentual pode parecer baixo se comparados, por exemplo, com os do Brasil, onde quase 80% dos 147 milhões de eleitores votaram em 2018. Mas é preciso lembrar que nos Estados Unidos, diferentemente do Brasil, o voto não é obrigatório.
Desde o início do século passado, o comparecimento às urnas jamais chegou a 70% do eleitorado. Estima-se que neste ano 239,2 milhões dos 328,1 milhões de americanos estejam aptos a votar (são cidadãos e maiores de idade).
Na eleição passada, uma das que mais atraíram eleitores nas últimas décadas, 59,2% foram às urnas escolher entre Donald Trump e Hillary Clinton. Com Barack Obama e John McCain, em 2008, foram 57,1,%.
Na fatídica eleição de George W. Bush em 2000, que precisou da Suprema Corte, apenas metade dos americanos votou (ainda assim, índice maior do que a baixa história, em 1996, quando 49% participaram da disputa entre o democrata Bill Clinton, o republicano Bob Dole e o independente Roos Perot).
Os percentuais tendem a ser ainda mais baixos quando um dos candidatos é um presidente que tenta a reeleição.
Há dois motivos para que isso não tenha ocorrido em 2020, e a disputa entre Donald Trump e Joe Biden venha a ser a que mais atraiu eleitores desde que William McKinley e William Jennings Byran se enfrentaram em 1900 (McKinley seria assassinado no ano seguinte e substituído pelo vice, Theodore Roosevelt).
Naquele ano, votaram 73,2% dos eleitores -um grupo que ainda excluía mulheres, cujo direito ao sufrágio só seria conquistado quase 19 anos depois.
O primeiro é a crescente polarização da sociedade americana. O medo e a raiva do outro, do adversário, foi novamente um dos combustíveis da campanha, alimentado pela circulação de informações falsas e pela sensação de que a política de turno, cada vez mais, tende a excluir aqueles que não se alinham a ela.
O segundo é a possibilidade de votar pelo correio ou de forma presencial antecipadamente, alargada e incentivada por causa da pandemia do novo coronavírus, a fim de evitar aglomerações em sessões eleitorais em um país onde mais de 230 mil já morreram em decorrência da covid-19.
A maioria dos eleitores, aliás, preferiu essa modalidade: segundo o US Elections Project, foram 100,3 milhões de votos antecipados.
Nos EUA, o dia da eleição, sempre na primeira terça-feira de novembro, não é feriado. Os empregadores não têm obrigação de dispensar seus funcionários, e nem todos compensam o dia de trabalho.
Por isso, votar nos EUA muitas vezes é uma questão de cálculo financeiro, uma conta entre a diferença que o cidadão acha que o voto dele fará e o custo de se perder um dia de trabalho ou se locomover até uma sessão eleitoral nem sempre próxima, especialmente em locais menos populosos. Esta, aliás, é uma das contas que os grupos políticos fazem quando tentam desestimular o potencial eleitorado do oponente de ir até as urnas.
Removida a amarra de se estar na sessão eleitoral em um determinado dia útil, muito mais americanos decidiram participar do processo.
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