Pior surto de covid na China confina 17 milhões e testa política de tolerância zero
Com o avanço da variante ômicron, porém, surtos têm sido registrados em diferentes partes da China
Enquanto parte do planeta elimina as restrições para conter a covid-19, depois de surtos devastadores que mataram mais de 6 milhões de pessoas, a China tem apertado mais o cerco contra o coronavírus enquanto enfrenta a pior onda da doença em dois anos.
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Só neste domingo (13) foram registrados oficialmente 3.939 novos casos de infecção pela doença. O número seria considerado um sucesso em qualquer país do Ocidente, mas acende os alarmes na China, que desde o início da pandemia adotou a política de covid zero, segundo a qual nenhum nível de contaminação é aceitável.
O temor é que, sem controle, aconteça uma situação similar à da Coreia do Sul, também considerada um exemplo bem-sucedido de contenção da doença, mas que viu o número de contaminações disparar e atingir média diária de mais de 300 mil casos –muito acima do registrado no Brasil, por exemplo.
Com o avanço da variante ômicron, porém, surtos têm sido registrados em diferentes partes da China, e o isolamento de alguns dos principais centros financeiros da segunda maior economia do mundo, como Xangai e Shenzhen, tem levantado dúvidas sobre a sustentabilidade da política de tolerância zero.
“Gostaria de estar errado, mas acho que a ômicron é mais forte que a política de Covid zero”, diz Rodrigo Zeidan, professor de economia da Universidade de Nova York em Xangai. A cidade, de 25 milhões de pessoas, ainda não entrou em lockdown completo, mas alguns bairros foram isolados, bem como escolas e equipamentos culturais.
Zeidan ressalta que a política de covid zero tem apoio da população, mas que o lockdown gera ansiedade e preocupação. E dá um exemplo do nível de controle do país sobre a doença. “A mulher de um colega professor da NYU acaba de ir para um hotel de quarentena porque pegou um táxi depois que uma pessoa infectada tinha andado no carro. Então precisou se isolar”, diz.
O receio em Xangai é que ocorra o mesmo que aconteceu em Shenzhen, centro econômico e polo tecnológico no sul do país, com 17 milhões de habitantes, que depois de dias confinando bairros pontuais finalmente entrou em lockdown completo neste domingo, após identificar 66 casos sintomáticos.
Para se ter uma ideia da importância da cidade, é em Shenzhen onde fica a sede de algumas das maiores empresas do país, como a Huawei, de produtos eletrônicos, a fabricante de carros BYD e a Tencent, uma das principais companhias de internet do mundo.
Há incerteza sobre quanto tempo durará o lockdown. O isolamento de Xian, na região central do país, com 13 milhões de habitantes, durou um mês, entre dezembro e janeiro.
Dentro da China já há pesquisadores que defendem uma política de coexistência com o vírus. No começo do mês, Zeng Guang, ex-cientista-chefe do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China, um dos responsáveis pelas respostas iniciais ao vírus, afirmou que a estratégia chinesa não pode “permanecer inalterada para sempre” e que “é o objetivo de longo prazo da humanidade coexistir com o vírus”.
No Weibo, popular rede social chinesa, ele argumentou que o sucesso do país em controlar o vírus pode se tornar seu ponto fraco, já que a taxa de imunização natural da população é menor. “Em um futuro próximo, no momento certo, o roteiro para a coexistência no estilo chinês com o vírus deve ser apresentado”.
Shenzhen importou casos de Hong Kong, cidade com a qual faz divisa e onde o número de contaminações disparou, com média diária de mais de 40 mil casos no começo do mês –por ser uma região administrativa especial, os números não entram na contagem oficial de casos da China.
Na sexta-feira (11), autoridades já haviam decidido isolar Changchun, com 9 milhões de habitantes, capital da província de Jilin, que faz fronteira com a Coreia do Norte e com a Rússia, na região de Vladivostok.
Os moradores terão de permanecer em suas casas, e apenas uma pessoa por lar poderá sair uma vez a cada dois dias, informou a prefeitura, que prevê submeter toda a população a testes de detecção da covid. Escolas e lojas foram fechadas, o transporte foi interrompido e ninguém pode sair da cidade.
Na mesma província, Yanji, com 700 mil habitantes, também foi confinada. Na cidade de Jilin, bairros também foram isolados depois que 500 casos foram confirmados, e os moradores passaram por seis rodadas de testes em massa.
O descontrole de casos, porém, tem sido respondido de maneira firme pelo Partido Comunista Chinês e, no sábado (12), derrubou o prefeito de Jilin e o chefe da saúde da cidade vizinha de Changchun.
“Os mecanismos de resposta de emergência em algumas áreas não são robustos o suficiente, não há compreensão suficiente das características da variante ômicron e houve decisões equivocadas”, afirmou Zhang Yan, autoridade de saúde de Jilin.
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