Bolsonaro diz que dará voadora no pescoço de quem praticar corrupção em seu governo
Olhando-se em retrospecto, porém, o presidente ignorou suspeitas sobre aliados, amigos e familiares, contrariando o discurso ético e anticorrupção da campanha eleitoral
Uma semana após dizer que acabou com a Lava Jato por não haver mais corrupção em seu governo, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quarta-feira (14) que, se alguém andar fora da linha em sua gestão, levará “uma voadora no pescoço”.
Em conversa com apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada, o presidente tocou no assunto ao informar à claque que a Polícia Federal estava realizando uma operação em Roraima.
“Ah, acabou a Lava Jato, pessoal? A PF está lá em Roraima hoje. Para mim não tem. No meu governo, não tem porque botamos gente lá comprometida com a honestidade, com o futuro do Brasil”, disse Bolsonaro, fazendo alusão ao discurso que fez no Palácio do Planalto em 7 de outubro.
“Eu desconheço lobby para criar dificuldade e vender facilidade, não existe. É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação”, declarou o presidente, durante cerimônia para lançar medidas de desburocratização do setor aéreo.
Nesta quarta, ele disse ao seu público o que faria caso encontrasse algum caso de corrupção em seu governo. “Se acontecer alguma coisa, a gente bota para correr, dá uma voadora no pescoço dele. Mas não acredito que haja no meu governo”, disse Bolsonaro.
Bolsonaro tem sido criticado, inclusive por ex-aliados, por tomar decisões que contrariam os defensores do conjunto de operações e investigações iniciadas em 2014. Entre elas, a nomeação de Kassio Nunes para o STF (Supremo Tribunal Federal), um juiz tido como garantista.
O núcleo garantista no Supremo costuma impor derrotas à Lava Jato.
Além do mais, Bolsonaro adotou nos últimos meses um tom mais pragmático e tem priorizado uma boa relação tanto com o Judiciário quanto com o Congresso Nacional, em contraposição ao discurso crítico da chamada velha política que marcou sua campanha eleitoral.
Olhando-se em retrospecto, porém, o presidente ignorou suspeitas sobre aliados, amigos e familiares, contrariando o discurso ético e anticorrupção da campanha eleitoral.
Em 16 de setembro, por exemplo, José Vicente Santini, que havia sido demitido do posto de secretário-executivo da Casa Civil do governo de Jair Bolsonaro em janeiro deste ano após usar um jato da FAB (Força Aérea Brasileira) para uma viagem exclusiva para a Índia, ganhou um cargo no Ministério do Meio Ambiente.
O presidente também fez vista grossa em relação a denúncia apresentada pela Folha que revelou que o chefe da Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência), Fabio Wajngarten, recebia, por meio de uma empresa da qual é sócio, dinheiro de emissoras televisivas e de agências de publicidade contratadas pela própria secretaria, ministérios e estatais do governo.
A Folha revelou ainda que, ao assumir o cargo, o secretário omitiu da Comissão de Ética Pública da Presidência da República informações sobre as atividades da FW e os negócios mantidos por ela. Na gestão de Wajngarten, seus clientes passaram a receber porcentuais maiores da verba de propaganda da Secom.
Reportagens da Folha publicadas em 2019 revelaram o esquema das candidaturas de laranjas do PSL, partido pelo qual Bolsonaro foi eleito presidente.
Em fevereiro, a primeira reportagem apontou que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, criou candidatos laranjas para desviar recursos da eleição -ele presidia o PSL de Minas Gerais durante a campanha de 2018.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho do presidente, é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro sob suspeita de lavagem de dinheiro, peculato, ocultação de patrimônio e organização criminosa, além da prática de “rachadinha”, que consiste em coagir servidores a devolver parte do salário aos parlamentares.
A quebra do sigilo bancário do policial militar aposentado Fabrício Queiroz revelou em agosto novos repasses do amigo do presidente Jair Bolsonaro à primeira-dama Michelle Bolsonaro.
Cheques que Queiroz e sua mulher depositaram na conta de Michelle somam R$ 89 mil, e não os R$ 24 mil até então revelados nem os R$ 40 mil ditos pelo presidente.
Bolsonaro também não faz qualquer comentário sobre o fato de o ministro Onyx Lorenzoni (Cidadania) ter firmado um acordo de não persecução penal com a PGR (Procuradoria-Geral da República) no qual admitiu ter recebido R$ 300 mil em caixa dois da JBS em 2012 e 2014.
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