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Morre aos 83 anos Jaime Lerner, urbanista de destaque e duas vezes governador do Paraná

Segundo nota do Hospital Evangélico Mackenzie, Lerner morreu às 5h10 em decorrência de complicações de doença renal crônica


Por Folhapress Publicado 27/05/2021
Foto: Divulgação/Governo do Estado do Paraná

Morreu nesta quinta-feira (27) o ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner, aos 83 anos, por complicações renais. Ele estava internado desde a última sexta-feira (21) no Hospital Evangélico Mackenzie, na capital paranaense.

Em nota, o hospital informou que Lerner morreu às 5h10 em decorrência de complicações de doença renal crônica. “Lamentamos a perda e desejamos conforto aos familiares, em nome do Senhor”, afirmou a instituição em nota na manhã desta quinta.

Arquiteto e urbanista formado pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), Lerner ajudou a elaborar o Plano Diretor de Curitiba, entre os anos de 1962 e 1965. O projeto estruturou o perfil moderno da cidade e rege sua disposição até hoje.

Afastado da política nos últimos anos, Lerner foi nomeado prefeito de Curitiba por duas vezes durante a ditadura militar (1964-1985) e depois eleito para um terceiro mandato, entre as décadas de 1970 e 1990. Nesse período passou pelos partidos Arena, PDS e PDT.

Em seguida, foi governador do Paraná por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002 -elegeu-se primeiro pelo PDT e, em seguida, pelo PFL (atual DEM) após divergências com o líder pedetista Leonel Brizola.

Em março deste ano, Lerner contraiu a covid-19, mas na ocasião apresentou somente sintomas leves da doença.

Ele ganhou projeção nacional e internacional pelos projetos arquitetônicos e urbanísticos que desenvolveu para Curitiba, como os feitos em calçadões, parques e no sistema de transporte da capital paranaense, modelo que induziu o desenvolvimento e serviu de ferramenta ao zoneamento urbano.

Após deixar a Prefeitura de Curitiba, indicou como sucessor, na época, Rafael Greca, que comandou a cidade entre 1993 e 1996 -depois retornando em 2017.

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no ano passado, Lerner falou sobre sua visão para as cidades brasileiras no pós-pandemia. Abolir a divisão dos bairros por função ou renda foi uma das propostas que apresentou. “Diversidade é qualidade de vida”, disse. Ele também pensava em um novo papel para os carros, que ele chamou de “o cigarro do futuro”.

Questionado sobre o momento político do país, Lerner afirmou que “em termos políticos o que deveria existir é a boa convivência entre aqueles que não concordam, isso está difícil”.

“O que eu gostaria de ver é uma visão mais humana, mais próxima, não antagônica, espero que isso aconteça. Todas as cidades que têm apresentado crise nessa pandemia precisam ser repensadas com mais solidariedade.”

Lerner também foi presidente da União Internacional dos Arquitetos de 2002 a 2005. Em 1990, ele foi condecorado com o Prêmio Máximo das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Já em 2017, foi escolhido pelos leitores da revista americana Planetizen como o segundo urbanista mais influente do mundo.

Desde que deixou a política, atuava no desenvolvimento de projetos de arquitetura e urbanismo para os setores público e privado de diversas cidades no Brasil e no exterior, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Recife, Havana (Cuba), Caracas (Venezuela), Xangai (China), Luanda (Angola), David (Panamá), Mazatlán (México) e Santiago de Los Caballeros (República Dominicana).

Além das contribuições para a reestruturação da paisagem urbana de Curitiba, Lerner a transformou culturalmente. Ele idealizou a construção do Museu Oscar Niemeyer, o “Museu do Olho”, um dos mais conhecidos pontos turísticos da cidade, inaugurado em 2002.

Também transformou o Teatro Paiol, espaço intimista em formato de arena romana, em um ambiente cultural. O show de inauguração do local, em 1972, contou com as apresentações de Vinicius de Moraes e Toquinho.

Já como governador, foi criticado por ter implantado os pedágios nas rodovias do Paraná, em 1997 – os contratos vencem em novembro deste ano. A falta de experiência levou a um modelo de tarifa calculado a partir de valores pré-fixados pelo governo estadual, e não de menor preço do pedágio.

Esse método, somado a diversas alterações e aditivos contratuais, alta carga tributária estadual e casos de corrupção, levou os paranaenses a pagarem um preço alto. Hoje, seis das dez tarifas de pedágio mais caras do Brasil estão no estado.

Em 2013, Lerner chegou a depor em uma CPI instalada na Assembleia Legislativa do Paraná para investigar os contratos. Ele afirmou que a concessão era, à época, a única alternativa viável ao estado, que tinha uma infraestrutura precária, e que pagou pelo pioneirismo, já que foi um dos primeiros governantes do país a adotar o sistema.

Segundo a Prefeitura de Curitiba, seu corpo será sepultado no cemitério Israelita de Santa Cândida. Lerner deixa duas filhas: Andrea e Ilana, esta, diretora da Biblioteca Pública do Paraná. Ele era viúvo da ex-primeira-dama Fani Lerner, que morreu em 2009.

LUTO E REPERCUSSÃO

​O governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD), decretou luto oficial de três dias e lamentou a morte do arquiteto, destacando suas obras pelo estado.

As bandeiras em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo estadual, foram colocadas a meio-mastro. Ele ressaltou que as transformações implantadas por Lerner em Curitiba servem de inspiração mundo afora.

“O Paraná perde um grande cidadão, que ajudou a transformar Curitiba e o estado. Os nossos corações, marca que por muito tempo ele usou, estão juntos neste momento de profunda dor e tristeza para todo o povo do Paraná”, disse o governador.

O prefeito de Curitiba, Rafael Greca (DEM), também decretou luto oficial e prestou homenagem a seu antecessor na década de 1990, ressaltando as intervenções do arquiteto enquanto gestor público. Segundo o prefeito, Lerner será homenageado com um concerto da Camerata de Curitiba, uma de suas criações.

“Foi grande e foi nosso. Um homem é eterno quando sua memória permanece. O coração curitibano é parte do legado de Jaime Lerner. Famoso e consagrado urbanista também no mundo. Costumava dizer com entusiasmo e sabedoria: ‘Quem cria, nasce todo dia’. Nossa amada Curitiba irá honrar para sempre o seu nome”, afirmou.

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou nas redes sociais que o Brasil “perde um grande homem público, extraordinário arquiteto e urbanista”.

Adversário político histórico de Lerner, o ex-governador e ex-senador Roberto Requião (MDB) lamentou a morte do arquiteto. “Apesar das minhas críticas ao seu liberalismo, posso elogiar o seu talento e sua capacidade na administração de cidades. Ele marcou a sua passagem em Curitiba e pelo Paraná de forma definitiva. A História irá considerar esse período em que o Jaime fez política de forma muito clara”, afirmou.

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