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Senador da minoria governista na CPI da Covid critica articulação política de Bolsonaro

Rogério reclama da falta de ações do Palácio do Planalto em relação ao Senado


Por Folhapress Publicado 20/04/2021
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado

Uma das poucas vozes defensoras do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na CPI da Covid, o senador Marcos Rogério (DEM-RO) critica a articulação política do governo na definição da composição e dos principais cargos da comissão e aponta o dedo para a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, responsável pelo diálogo com parlamentares.

Rogério reclama da falta de ações do Palácio do Planalto em relação ao Senado. O governo falhou, por exemplo, em barrar na CPI uma maioria de nomes considerados de oposição ou independentes a Bolsonaro. O líder do DEM no Senado disse que conversou nesta segunda-feira (19) com Arruda sobre as insatisfações. “Foi uma conversa boa. Depois da repercussão toda, ela me ligou, querendo saber o que está acontecendo e eu disse ‘olha, não é o que está acontecendo, é o que não está acontecendo’. Você está diante de uma situação em que um lado está muito articulado e o outro está totalmente desarticulado”, afirmou Rogério ao jornal Folha de S.Paulo.

“Ela disse que acabou de assumir… Eu entendi ela, as justificativas dela. Mas eu acho que, em uma situação como essa, base e oposição, é preciso conversar. Não pode deixar todo mundo agir. Eu não vou estar na CPI, como já estive em Conselho de Ética, para ser um ‘longa manus’ de investigado.” O governo está em minoria na comissão, com apenas 4 dos 11 membros titulares. Por isso o bloco oposicionista conseguiu trabalhar unido, fechando acordo para que o senador independente Omar Aziz (PSD-AM) seja o presidente da CPI.

A oposição, por sua vez, vai contar com Renan Calheiros (MDB-AL) na relatoria e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) como vice-presidente. Aliados do Planalto admitem que a situação é difícil, mas defendem que ainda têm uma semana pela frente para atuar barrando os nomes de oposição, principalmente o de Renan. Em relação à configuração dos blocos, Rogério e outros governistas reclamam principalmente da omissão do Planalto que permitiu que partidos considerados aliados acabassem indicando senadores independentes ou mesmo oposicionistas.

Embora não cite nenhum nome em específico, a crítica pode servir ao PSD, segunda maior bancada do Senado e próximo ao governo, que indicou dois independentes, Aziz e Otto Alencar (PSD-BA). O comentário também pode caber ao MDB, que embora não componha a base aliada, mantém afinidade com o Planalto nas votações e conta com os líderes do governo no Congresso e no Senado, respectivamente Eduardo Gomes (MDB-TO) e Fernando Bezerra (MDB-PE).

“Se o partido A tem uma ligação do governo e em alguma medida ele tem uma vaga ou duas vagas e ele indica dois de oposição, tem alguma coisa fora do lugar”, afirmou. O senador chegou a ser cogitado como o nome do governo para assumir a presidência da comissão.

Rogério afirma que não é candidato, mas que estaria preparado, como todos os dez demais membros titulares da comissão. E acrescenta que o ideal seria uma comissão balanceada com os dois cargos principais –presidência e relatoria– divididos entre o bloco mais próximo do governo e o formado por independentes e oposição.

“Talvez nessa até haja [disputas exacerbadas na CPI], em razão do que eu estou vendo aí, em razão de parece ter duas CPIs paralelas, uma com um grupo que parece que já definiu tudo e outra parcela que está quieta, silenciosa. Mas espero que haja um entendimento na composição, tanto de presidente como de relator”, disse.
“Se você tem na presidência e relatoria dois quadros que já se colocam como oposição raivosa a alguém, não começa bem.”

Rogério afirma que a CPI não deveria, por exemplo, investigar a atuação do governo e do próprio presidente para difundir ou recomendar a administração da hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia comprovada contra a covid-19. Completando que a hidroxicloroquina é uma questão subjetiva, porque cabe em última instância ao médico decidir”, diz.

O senador governista afirma que uma CPI é reunida para investigar um “fato indeterminado” e que seria “conspiração política” fugir a essa questão. “Eu acho que tem muita coisa que você pode apurar. A CPI pode apurar muita coisa. Mas perder o tempo da comissão para poder focar em situações que não sejam o epicentro, o cerne da investigação, eu acho que é perder a oportunidade de realmente dar a CPI a dimensão que ela deve ter, porque senão você vai cair na retórica política”, afirmou.

“Já que você quer apurar, você não pode partir de uma pré-concepção, pré-acusação, pré-condenação.” Por outro lado, Rogério reconhece que seja necessário investigar uma possível lentidão ou omissão do governo para a compra de vacinas contra a covid. “Aí é outra história. Tem que ver. O Brasil fez uma escolha para realmente não ter vacina? Eu acho que tem que ser apurado”, disse.

“É outra história porque aí você está falando de uma situação que há um consenso na ciência. A ciência errou muito também. No começo, o que a ciência dizia? Fica em casa. Matou meio mundo de gente. Vamos trazer os cientistas para dentro da CPI para poder enquadrar todos eles também?”, questiona.

Assim como o presidente Bolsonaro e outros parlamentares governistas, Rogério defende que talvez o principal foco da investigação deva ser a atuação dos estados e municípios, seguindo o dinheiro para verificar o que foi feito com os recursos repassados pelo governo federal a outros entes federados.

O senador também acrescenta que o governo Bolsonaro não deve temer a CPI. “Mas você não pode ser seletivo. Repito: não pode ser seletivo, não pode ter um movimento de conspiração contra o Executivo federal e uma blindagem com relação a estados e municípios. Isso não pode acontecer.”

“Eu acho que a investigação tem que ser de cima a baixo, para identificar realmente de onde foi o problema. Quem fez o dever de casa com responsabilidade e com assertividade, não tem que temer CPI.”

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