Usamos cookies e outras tecnologias para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao continuar navegando, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Anvisa ignora laudos chineses e mantém 12 mi de doses da CoronaVac retidas

O Instituto Butantan notificou o órgão de que as vacinas contra covid-19 tinham sido feitas numa fábrica que não estava pronta quando o uso emergencial foi liberado


Por Folhapress Publicado 12/09/2021
Foto: Roberto Gardinalli

 A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ignorou documentos reconhecidos por sua similar chinesa aprovando a fábrica onde foram feitas as 12 milhões de doses da CoronaVac que o órgão brasileiro mantém retidas.

Após reunião com os chineses neste sábado (11), segundo pessoas familiarizadas com o assunto, a agência insiste em fazer uma visita de inspeção in loco na unidade da farmacêutica chinesa Sinovac para deliberar sobre a questão. Não se sabe o quanto isso vai demorar, ou se irá acontecer.


O veto por 90 dias aos 25 lotes ocorreu no dia 4, quando o Instituto Butantan, parceiro da Sinovac, notificou o órgão regulador brasileiro de que as vacinas contra covid-19 tinham sido feitas numa fábrica que não estava pronta quando a Anvisa liberou o uso emergencial do imunizante. A Anvisa entendeu que isso não garantiria a qualidade e a segurança dos produtos, apesar de eles terem sido vistoriados no Butantan e na Fiocruz, e exigiu uma série de documentos.


Técnicos da agência e a NMPA (Administração Nacional de Produtos Médicos, na sigla em inglês) se reuniram na manhã deste sábado para discutir o caso. Segundo relatos de participantes, o encontro virtual de uma hora foi inócuo. A Anvisa apenas quis saber acerca de procedimentos burocráticos de seus colegas chineses, ignorando a certificação da fábrica da Sinovac.


Oficialmente, a Anvisa afirmou apenas que a reunião “não foi conclusiva e os lotes seguem interditados”. A agência não falou acerca do cronograma de inspeção. Há mais de uma dezena de documentos já fornecidos para o Butantan à Anvisa, mas dois são centrais para o caso: são certificações dada pela autoridade municipal de saúde de Pequim à fábrica, assinadas em 22 de março e 23 de abril, liberando seu funcionamento.


A Anvisa encrencou com o fato de a liberação não ser da NMPA. “O Instituto Butantan não apresentou o relatório de inspeção emitido pela autoridade sanitária, essencial para a avaliação das condições de aprovação da planta”, disse a agência no dia 8, após receber a documentação. Ocorre que na China todas as autoridades municipais e provinciais trabalham sob o guarda-chuva da agência central, não havendo diferença entre a validade dos relatórios em diversos níveis.


Autoridades de saúde paulistas consideram que isso viola o artigo 16 da chamada Lei da Pandemia, a 14.124/2020. O texto afirma que medicamentos, vacinas e insumos contra a covid-19 podem ser usados no Brasil caso tenham recebido chancela de algumas agências de vigilância internacionais, entre elas a NMPA.
Para integrantes do governo paulista, a questão é política e a insistência da Anvisa em ignorar isso se insere na disputa entre os governos Jair Bolsonaro (sem partido) e João Doria (PSDB-SP).


O tucano que governa São Paulo e quer disputar o Planalto em 2022 trava, desde o ano passado, um embate com o presidente acerca do manejo da pandemia. Ao longo de 2020, promoveu a vinda da Coronavac para o Brasil, onde é envasada e será produzida pelo Butantan. Ao insistir em um calendário próprio de vacinação, quando a pandemia começava sua segunda e mortífera onda no fim do ano passado, Doria acabou levando Bolsonaro a aceitar o tema da imunização. Ainda assim, o presidente segue reiterando suas objeções ao que chama de “vacina chinesa”. A mais recente disputa ocorre em torno do polêmico uso da CoronaVac nas doses de reforço para idosos e imunossuprimidos, rejeitada pelo Ministério da Saúde.


Além disso, São Paulo vive uma falta de doses para segunda aplicação das vacinas da AstraZeneca e da Pfizer, assim como outros cinco estados. O governo Doria culpa a gestão federal, afirmando que foram enviados menos fármacos do que o previsto. Já a Saúde diz que o governo estadual usou em excesso lotes para a primeira inoculação.

✅ Curtiu e quer receber mais notícias no seu celular? Clique aqui e siga o Canal eLimeira Notícias no WhatsApp.