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Bob Dylan completa 80 anos como tema de curso em universidade nos EUA

Com cerca de 30 novos estudantes por ano, não espere ver velhos hippies barbudos egressos de Woodstock fazendo bagunça na turma do fundão


Por Nani Camargo Publicado 23/05/2021
Foto: Reprodução/Instagram

Já vai fazer cinco anos que estudar Bob Dylan deixou de ser só um hobby para amantes do rock ou um projeto de vida para fãs alucinados.
Desde o segundo semestre de 2016, a Universidade de Tulsa, em Oklahoma, no meio oeste americano, oferece um curso de graduação em língua inglesa com aulas específicas sobre Dylan e suas criações, além de manter os arquivos do músico.


É mais uma realização na extensa lista de feitos inéditos do artista, que nesta segunda faz 80 anos. A importância de Dylan para a história da música e para a história contemporânea dos Estados Unidos vai além do fato de ele vencido o prêmio Nobel de Literatura em 2016.
Uma conversa que pode ajudar nessa mensuração é com o diretor do Institute for Bob Dylan Studies da Universidade de Tulsa, professor Sean Latham, também especializado no escritor irlandês James Joyce, morto há 90 anos.


Estudioso de Joyce há décadas, Latham escreveu diversas obras sobre o autor de “Ulysses” e “Finnegans Wake”, além de editar uma revista universitária a respeito do escritor.
“Me considero muito sortudo porque Joyce, é inquestionavelmente, o artista mais influente do mundo na primeira metade do século 20, não só na literatura, mas pelo modo como suas ideias circulam e mudam o conceito do que é arte. Ele é transformador”, afirma.
“E Dylan é essa figura para a segunda metade do século. Ele também tem o mesmo tipo de impacto global. Ele nos levou a ver a música pop seriamente, a ver isso como uma forma de poesia. Mas não só na música, mas em todos os tipos de forma de arte.”


“Nossa missão no instituto é dar suporte, expandir e desenvolver conhecimento em torno do material do Bob Dylan Archive que está aqui na universidade, não só o que está relacionado com canções, mas suas conexões com a cultura, os direitos civis, o ativismo e a música popular como um todo”, conta Latham.
Não é que o estudante, ao se formar, vá receber uma graduação em “dylanismo”, “dylanologia” ou coisa que o valha. “A formação é inglês e literatura inglesa”, esclarece. Mas os estudantes de Tulsa terão três aulas que existem só ali –”Bob Dylan”, “De Woody Guthrie a Bob Dylan: Um Século de Música” e “Políticas do Pop”.


Apesar de focar as letras escritas pelo músico, o curso também passa um pouco pelas melodias e harmonias de suas canções. “Uma coisa que a gente estuda são as gravações dos vários takes de ‘Like a Rolling Stone’, que começa como uma valsa, nas primeiras tentativas, e aos poucos vai se transformando no rock que todo mundo conhece hoje”, afirma o professor.


Com cerca de 30 novos estudantes por ano, não espere ver velhos hippies barbudos egressos de Woodstock fazendo bagunça na turma do fundão. “No geral, são jovens que chegam para estudar inglês e acabam encontrando esses cursos no meio do currículo. Nos últimos anos, porém, tem havido estudantes de pós-gradução que vêm especificamente para estudar Dylan”, diz Latham.


O aniversário nesta segunda foi motivo de um simpósio online que começou no sábado e termina nesta segunda, com 15 professores, pesquisadores e jornalistas dando palestras sobre a obra do músico. A cidade natal de Dylan, Duluth, em Minnesota, também está em festa. Outra novidade foi o lançamento, no início do mês, do livro “The World of Bob Dylan”, organizado por Latham e publicado pela Universidade de Cambridge (US$ 12,65, cerca de R$ 64, o ebook na Amazon). A obra, cuja edição impressa esgotou em duas semanas, traz 28 ensaios de professores das mais variadas áreas do conhecimento.


A história do Institute for Bob Dylan Studies começou com a doação à universidade de uma enorme coleção de papéis, fotografias, gravações e filmes de e sobre Bob Dylan. Daí para os cursos universitários, foi só um pulinho.


Latham se diverte ao recordar como foi sua primeira aula dylanesca, há quase cinco anos. “Eu tinha 30 estudantes na classe, estava bem empolgado e preparei a aula sobre ‘Tangled Up in Blue’ [1974], que é um dos maiores clássicos de Dylan. Perguntei quem conhecia a música e, para minha surpresa, ninguém levantou a mão. Ninguém nunca tinha ouvido nem falar.”
“Okay, pensei. Então vamos começar com ‘Blowin’ in the Wind’, porque todo mundo certamente conheça essa. Também ninguém, com exceção de um estudante que disse ‘eu conheço essa canção, meus avós têm esse disco, mas não é do Bob Dylan, é do Peter, Paul & Mary’ [em 1963, o trio estourou mundialmente com sua versão da música de Dylan]. Avós, okay. Então eu entendi onde estava me metendo.”


“O que fiz foi que, no final da aula, pedi que cada um procurasse a discografia de seus artistas preferidos e disse que é quase certo que esses artistas terão feito um cover de Bob Dylan em algum momento. Ninguém acreditou, mas na semana seguinte eles estavam ‘oh’, ‘meu Deus’, ‘não podia imaginar’. E foi a
primeira lição que aprenderam –Bob Dylan está em todos os lugares da música pop.”
Trechos do livro ‘The World of Bob Dylan’ […] Enquanto a sensibilidade beat estava sempre em mutação, Dylan adaptava posturas sociais de antigos escritores e atitudes da tradição literária para ajudá-lo a forjar sua própria visão idiossincrática.


Steven Belletto, professor de língua inglesa da faculdade Lafayette College
[…] Talvez nós devamos inverter a questão [sobre as influências literárias em Dylan] e perguntar como Dylan influenciou elogiados contribuintes do cânone americano.
Florence Dore, professora de literatura americana da Universidade da Carolina do Norte.


[…] Este capítulo vai traçar cronologicamente como o compositor trata de crimes, justiça e injustiça [em suas canções] para compreender sua função como fonte de inspiração artística e comentários na cultura americana.
Lisa O’Neill-Sanders, professora de filosofia da Universidade Saint Peter’s

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