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Viúvo há quatro anos, Milton Neves enfrenta depressão: ‘Até morrer eu vou chorar’

O jornalista e apresentador, que deixou a Band há três meses, falou sobre os dias melancólicos, solitários e sem esperança que tem enfrentado


Por Folhapress Publicado 24/03/2024
Milton Neves
Milton Neves, jornalista e apresentador – Foto: Reprodução/Twitter (X)

Quase quatro anos após perder a mulher, Lenice, para um câncer, Milton Neves vive a dor do luto diariamente. O jornalista e apresentador, que deixou a Band há três meses, falou ao F5 sobre os dias melancólicos, solitários e sem esperança que tem enfrentado.

Milton e Lenice Chame Magnoni Neves se conheceram em Muzambinho, em Minas Gerais, sua cidade natal, e foram casados por 42 anos. Os dois tiveram três filhos, Rafael, Fábio e Milton Neto. Lenice morreu no dia 30 de agosto de 2020, aos 65 anos.



Como está sua rotina?


Estou tocando a bola, mas numa fortíssima depressão. Minha vida está horrível. Estou vivendo numa casa que cabem umas 70 pessoas, eu, o caseiro e a mulher do caseiro. Passo os dias deitado, numa depressão danada, fico sonhando com minha mulher. Meu único amor da vida inteira. Só tive um namoro, um noivado e um casamento na vida. Agora ela foi para o céu. Ela me me deixou no dia 30 de agosto de 2020 e desde então minha vida virou um horror.



Acha que sua saída da Band pode ter piorado o quadro de depressão?


Eu que pedi demissão. Falei para o Johnny Saad (dono da Band): “não posso trabalhar, estou psicologicamente derrotado”. Já estava antes, desde quando ela adoeceu. Pedi demissão isentando a Bandeirantes de qualquer pendência futura comigo. Eu amo a Bandeirantes. A Band não me deve nada, eu que devo a ela, porque ela realizou meu sonho de menino que era trabalhar lá. A minha carta de demissão é a carta mais bonita da história de uma relação de funcionário com uma empresa. Mil vezes obrigado, Bandeirantes, por ter me acolhido.

Seu sonho era trabalhar lá?


Era. Na minha casa não tinha rádio, eu ia na casa dos vizinhos escutar. Minha tia Antônia, que me criou, fez um empréstimo no banco em 30 prestações para poder me dar um radinho [chora]. Eu ouvia Bandeirantes o dia inteiro. Lá em Muzambinho, eu era da quarta divisão social e financeira. Eu tinha apenas minha avó, Beatriz, minha mãe, Carmem e minha tia Antônia. Meu pai morreu nos anos 60 e minha mãe ficou viúva, coitada, e a tia Antônia que nos criou. Ela dava aula em três cidades como professora primária para poder sustentar minha mãe, minha avó, meu irmão e eu. Ela foi nossa segunda mãe. Em 1968 consegui meu primeiro emprego, na rádio Continental, em Muzambinho. Depois fui para São Paulo, fui lá no prédio da Gazeta, fiz vestibular para jornalismo e passei, mas eu não tinha dinheiro. O Di Genio (João Carlos Di Genio, fundador do Objetivo) foi um gênio na minha vida. Ele deu bolsa para mim e para mais nove alunos de Muzambinho. Me formei em jornalismo e comecei a trabalhar como repórter de trânsito na rádio Jovem Pan. Fiquei 33 anos na Jovem Pan, de lá fui para a Bandeirantes, depois para a Record e depois mais 28 anos de Bandeirantes. É a primeira vez desde 1968 que estou sem um microfone.



Mas você está tratando a depressão?


Estou, já mudei de psicólogo e psiquiatra umas três vezes cada, mas não tem conserto. Esses dias fui lá no Jassa cortar e pintar o cabelo, porque meu cabelo estava parecendo o Einstein. Encontrei o Silvio Santos. Ele está muito lúcido, com uma voz linda. Ele virou para mim e falou: “moço, o senhor está triste, hein”. Eu falei [chorando]: “estou mesmo”. Ele me indicou remédios, me deu conselhos para lidar com a depressão. Mas não tem jeito. Até morrer eu vou estar chorando.



Como vocês reagiram quando ela adoeceu?


Ficamos dois anos de hospital em hospital. Meus filhos conseguiram o melhor hospital de Nova York, custava 210 mil dólares. Falei ‘manda brasa, eu vou até onde for para salvar ela’. Mas na época [pandemia de Covid] o Trump baixou um decreto proibindo pousar aviões de 39 países, incluindo o Brasil. Tivemos o maior apoio no Einsten, no Sírio Libanês, na Rede D’or. Esses dias eu fui fazer um check-up no Einstein e conheci um médico baixinho, careca, muito simpático e ele falou: ‘Eu que tratei da tua mulher’. Eu falei [chorando]: ‘Doutor, traz ela de volta?’ Falo o nome dela umas 80 vezes por dia. Fico conversando com os retratos dela na cabeceira da minha cama. Eu que tinha que ter tido essa desgraça, da vida louca que eu tive esses anos todos. Ela não merecia isso [chora]. Mas esse trem que mata 90% das pessoas que pegam… Eu queria que fosse comigo, ela não merecia. Minha mulher era nova, evangélica, dentista. O DNA dela era perfeito, sangue italiano e libanês. Eu trabalhei feito um cavalo e quem cuidava de tudo da casa era ela. Ela foi pai e mãe. Eu não estava presente quando meus três filhos nasceram. Estava trabalhando. Naquela época isso era normal. Imagina para um rapaz como eu, que não tinha nada, o trabalho era tudo que eu tinha. Teve uma vez que ela me falou que os meninos não iam poder entrar na natação porque o pagamento estava atrasado. Eu trabalhava como repórter mas o salário não dava. Aí eu prestei concurso para escrivão da polícia. Foi duro conciliar com a rádio. Mas ela deu conta de tudo, ela cuidava de tudo. Eu era muito mais feliz naquela época, mesmo com tudo tão apertado, do que sou hoje.

Você tem alguma fé?


Sou católico e minha mulher era presbiteriana. Nunca um pediu para o outro mudar [chora].



E casaram em qual igreja?


Na igreja dela, na presbiteriana. Quem determinou o lugar foi ela. Ela era rica na cidade, o avô dela era o mais rico da região. Nós nos casamos virgens, porque na minha terra era assim. Foi minha única namorada, única noiva e única mulher na vida. Eu também fui o único dela em tudo.



Pretende guardar o luto?


Eu não encosto em mulher nenhuma. Não vou casar nem namorar nunca, sinto que seria traição. Estou guardando luto desde o dia 30 de agosto de 2020 e vou guardar para sempre.

Como é sua relação com seus filhos e netos?


Minhas netas me visitam sempre! Elas moram aqui do lado, elas vêm a pé me visitar. O Fábio, meu filho do meio, fez aniversário, ele fez 41 anos. Ele que cuida das nossas fazendas em Minas Gerais.


Pretende voltar à TV, ao rádio? Tem recebido propostas?


Sim, logo logo vou estar numa rádio, numa TV, aí eu melhoro de vez. Por que sem minha Lenice e sem microfone eu não sou nada. Tenho recebido umas sondagens, mas com todo o respeito, não vou sair da Bandeirantes, que é o Flamengo ou o Corinthians, para ir jogar no Pirassununguense. Recebo principalmente reclamações por não estar no ar. Pedi demissão porque eu estava muito mal psicologicamente. Mas estou empregado, estou no UOL [colunista]. Faz uns 20 anos que eu trabalho lá. Minha maior tristeza não é estar sem microfone, é estar sem minha Lenice. Eu criei uma coisa maravilhosa que é o ‘Que Fim Levou’. Eu sei mais da carreira do entrevistado do que ele mesmo. Sou o vendedor de passados. Agora eles (jogadores) estão muito tristes, eles ficam me cobrando para voltar. Mas eu vou voltar para o ar, e assim que eu voltar vai ter novamente o Que Fim Levou. Eu tenho um sonho na vida e já falei isso para o Johnny Saad. Quero estar aposentado e receber a seguinte notícia: Bandeirantes é a líder da TV brasileira, superando Globo, Record e SBT. Quando sair essa notícia eu vou ser o homem mais feliz desse mundo. Mesmo não trabalhando mais lá.

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