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44% dos jovens se baseiam nas redes sociais para investir

Os dados da pesquisa revelam ainda que quase metade -cerca de 44% dos entrevistados - costuma buscar nas redes sociais informações financeiras


Por Folhapress Publicado 28/11/2021
Foto: Reprodução

Abastecidos por uma infinidade de fontes de informação que chegam por meio das redes sociais e dos influenciadores digitais, os adolescentes brasileiros têm desde cedo iniciado uma cultura financeira própria.


Uma pesquisa do Datafolha encomendada pelo C6 Bank que ouviu cerca de 950 adolescentes brasileiros entre os dias 18 e 25 de outubro mostrou que cerca de 70% deles têm como hábito guardar algum dinheiro.


Há diferenças, contudo, de acordo com a faixa de renda. Nas classes A e B, o percentual dos jovens que têm por hábito fazer alguma economia é de 81%. O índice cai para 73% na classe C e para 51% nas D e E.


Ter dinheiro para o caso de algum imprevisto e investir com o objetivo de alcançar um rendimento mensal foram as principais alternativas apontadas como razão para fazer a reserva das economias.


Os dados da pesquisa revelam ainda que quase metade -cerca de 44% dos entrevistados- costuma buscar nas redes sociais informações financeiras sobre como lidar melhor com o dinheiro e investimentos.


“O jovem está nas redes sociais e tem hoje muito mais fontes de informação à disposição do que anos atrás, tanto para o lado bom como para o lado ruim”, diz Liao Yu Chieh, professor do Insper e diretor de educação financeira do C6 Bank.


Segundo Chieh, uma informação considerada preocupante destacada pela pesquisa é que aproximadamente 64% dos adolescentes disseram acreditar ser possível ganhar muito dinheiro em pouco tempo, fazendo investimentos por conta própria com base apenas em dicas de internet.


Concordaram totalmente com a afirmação 27% dos participantes, e 37%, em parte. “Isso não é verdade e é um ponto de atenção com o qual os jovens precisam tomar cuidado.”


Os resultados da pesquisa mostram também que os portais de notícias especializados e sites de jornais e revistas foram citados por apenas 26% do total de participantes, entre as fontes de informação que costumam acessar a respeito do tema.


Entre os influenciadores digitais que dialogam com o público jovem interessado pelo universo dos investimentos, estão adolescentes que começaram desde cedo a dar os primeiros passos no mercado.


É o caso do jovem investidor Mateus Gusmão, de 14 anos. Ele conta ter começado a investir aos 11 anos de idade, influenciado por anúncios na internet a respeito de investimentos de empresas do mercado.


Os primeiros investimentos, em meados de 2019, foram em cotas de fundos imobiliários, devido à menor volatilidade dos ativos em comparação às ações e à maior familiaridade com ativos do setor, como os shopping centers.


Após ter ganhado alguma familiaridade com o tema, o jovem diz que passou também a investir em uma carteira diversificada de ações, que hoje conta com nomes como Fleury, BTG Pactual e Carrefour.


Ele já investe até no exterior, nesse caso por meio de ETFs (fundos que replicam grandes índices de mercado) que acompanham o índice de ações globais S&P 500 e de fundos imobiliários americanos.


“Ter paciência é fundamental para obter sucesso com os investimentos no mercado, assim como entender bem o negócio da empresa em que está investindo”, diz Gusmão, que se classifica como um “value investor”, ou investidor de valor, filosofia consagrada pelo megainvestidor norte-americano Warren Buffett, que defende o investimento em negócios de qualidade a preços atrativos sob uma ótica de longo prazo.


“Gosto muito da parte de contabilidade, analiso os demonstrativos de resultados, o fluxo de caixa, olho bastante os números das empresas para avaliar se ela está saudável financeiramente”, diz Felipe Molero, influenciador digital de 13 anos conhecido nas redes como Kid Investor.


O investidor mirim conta que o interesse a respeito do tema de finanças surgiu pela primeira vez há cerca de três anos, quando passou a pesquisar a respeito das pessoas com as maiores fortunas acumuladas globalmente, após ter visto pelo Instagram imagens de grandes mansões.


“Ver coisas tão extravagantes teve um impacto muito grande para mim. Fiquei me perguntando como essas pessoas conseguiam tanto dinheiro para conseguir comprar casas daquele tipo. E percebi que muitas deles empreendiam e também investiam na Bolsa”, afirma Molero, que cita papéis da Bolsa brasileira, a B3, além de Itaúsa e de Taesa, entre as ações preferidas em carteira.


Em linha com os resultados indicados pela pesquisa, tanto Gusmão como Molero dizem que o investimento tem como objetivo a formação de uma reserva financeira que venha a lhes trazer algum conforto mais à frente. “Não tenho como objetivo enriquecer com base nos investimentos, porque entendo que o que enriquece é o trabalho”, diz Molero, que trabalha com conteúdos de educação financeira para jovens de sua idade interessados sobre o tema.


Ele afirma que, quando passou a se interessar por finanças e investimentos, encontrou pouca informação à disposição que tivesse um linguajar mais amigável para o público iniciante, que é o que mais acessa os conteúdos publicados pelo influenciador.


Os casos dos dois jovens são, contudo, uma exceção. Os dados da pesquisa da Datafolha e do C6 Bank apontam que, de modo geral, ainda é baixo o nível de informação dos adolescentes brasileiros sobre temas financeiros –a maioria não tem nenhum conhecimento sobre como funciona a previdência privada (75%), o cheque especial (73%) e a Bolsa de Valores (68%).


De toda forma, apesar da pouca idade, Chieh, do Insper e do C6, diz que um destaque positivo que pode se depreender do estudo é o que 83% dos entrevistados responderam que se questionam se precisam, de fato, de determinado produto antes de efetuar a compra.


Entre as situações que os adolescentes disseram que valeria mais a pena fazer uma dívida para pagar no futuro, nas classes A e B, viajar para o exterior para estudar liderou, com 54% das respostas.


Já entre os jovens das classes C, D e E, montar ou investir no próprio negócio é a principal razão que os levaria a assumir algum tipo de endividamento.


Influenciador digital com amplo acesso aos jovens da periferia, Murilo Duarte, conhecido como Favelado Investidor, conta que um objetivo muito comum que costuma ouvir da sua base de seguidores é o de se valer dos investimentos para conseguir ter uma vida melhor e realizar o sonho de comprar uma casa própria para a mãe.


“Para mim, o interesse pelo mercado financeiro surgiu quando percebi que era um dos caminhos pelo qual poderia sair da pobreza a longo prazo”, afirma o Favelado Investidor.


Com cerca de 560 mil seguidores no Instagram e outros 330 mil inscritos em seu canal no YouTube, ele conta ter começado a investir em meados de 2015 em títulos públicos por meio do Tesouro Direto, após economizar por alguns meses o que sobrava do salário que recebia como auxiliar em um cartório no centro de São Paulo.


“A pandemia deixou ainda mais nítida a importância de cuidar do dinheiro, e, no caso dos jovens, até pela questão de conseguir certa independência financeira em relação aos pais”, afirma Duarte.

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